Por: Carlos Emerenciano – Arquiteto e Advogado
Certa vez, Afonso Arinos afirmou em discurso que se não se pode esperar dos moderados decisões supremas, não se deve esperar dos exaltados decisões seguras.
Tancredo Neves, conterrâneo de Afonso Arinos, era, sobretudo, um político moderado. Talvez, tenha sido o mais mineiro dos políticos.
Costuma-se dizer, em tom de anedota, que, diante da rivalidade histórica entre Cruzeiro e Atlético, o esperto Tancredo optou por ser torcedor do América Mineiro desde criancinha.
Tancredo era discreto. Não tinha o charme irresistível de um JK, de quem se dizia que o adversário devia manter-se sempre distante para que não fosse seduzido politicamente.
Ingressou na política em 1935, como vereador de São João Del Rei. Com o mandato extinto pelo Estado Novo, buscou outros caminhos, tornando-se Promotor de Justiça.
Na década seguinte, voltaria à política, sua grande vocação. Eleito deputado federal pelo PSD em 1950, Tancredo foi escolhido, em 1953, Ministro da Justiça por Getúlio Vargas, cargo que exerceu até o suicídio do Presidente.
Articulador, discreto, moderado, sagaz, Tancredo foi ascendendo politicamente. Com a renúncia de Jânio Quadros à Presidência da República em 1961, criou-se um impasse em torno da posse do seu vice, João Goulart.
Retiraram então do colete um Parlamentarismo de ocasião e quem surgiu como nome ideal naqueles tempos tumultuados, véspera do Golpe Militar, para ser Primeiro-Ministro? Tancredo Neves.
Ao longo da ditadura, Tancredo firmou-se como um dos líderes do MDB. Era da ala moderada.
Veio a campanha das Diretas-Já que mobilizou o país. A Emenda Dante de Oliveira, porém, foi derrotada. A sucessão presidencial se daria por eleição indireta e o candidato que surgiu para conduzir o Brasil para a democracia foi Tancredo Neves. Vitória e muita festa pelas ruas do país.
Tancredo sabia que seria uma transição difícil. Talvez tenha sido por isso que escondeu durante um tempo as dores abdominais que vinha sentindo. Receava que sem ele o processo de redemocratização não se completasse. Costumava repetir uma frase que teria ouvido de Getúlio Vargas: “no Brasil, não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse”.
José Sarney, então vice de Tancredo, tomou posse em seu lugar no dia 15 de março de 1985. Esperava que o titular se recuperasse da crise de diverticulite da qual foi acometido. O que não ocorreu. Tancredo Neves, artífice da redemocratização, faleceu no dia 21 de abril daquele ano, provocando rara comoção popular.
Há um episódio que Tancredo protagonizou que destoa do estilo mineiramente discreto do político. Então líder do governo João Goulart na Câmara dos Deputados, ao presenciar o Presidente do Senado, senador Auro de Moura Andrade declarar vaga a Presidência da República, mesmo com o presidente estando em território nacional, Tancredo não se conteve. Aos berros, gritou por três vezes: “canalha! Canalha! Canalha!”.
Mesmo homens como Tancredo, pacíficos por formação e moderados por vocação, têm os seus momentos de fúria cívica. Lembrem-se do doce Rabi da Galiléia ao expulsar os vendilhões do templo a chicotadas. Vemos hoje no país com muita perplexidade a negação da pandemia, a sabotagem da vacinação e o desdém diante das mortes. Talvez, tenha chegado a hora dos pacíficos de espírito gritarem em alto e bom som: “canalha! Canalha! Canalha!”.
BANDIDO, bandido, bandido.
Mensalão, petrolao, Bndeszao.
Lula, Lula, Lula.
Tancredo foi um grande homem público.
Muito bom seus artigos, GRANDE CARLINHOS.