Em um gesto de coragem e autenticidade, Matheus Peres, jornalista e diretor de comunicação da Prefeitura do Natal, decidiu usar as redes sociais para uma revelação. Em uma postagem no Instagram, no último dia 10 de outubro, Matheus se assumiu gay, compartilhando sua jornada pessoal e a importância desse momento em sua vida.
“Não foi fácil eu ir a público fazer esse anúncio, há muito tempo que eu tinha desejo guardado dentro de mim, as pessoas mais próximas a mim, já sabiam da minha orientação sexual, mas por medo de julgamentos, eu vivia com isso preso dentro de mim”, afirmou Matheus em entrevista ao Diário do RN. O apoio de pessoas próximas foi fundamental para que ele encontrasse a coragem necessária para compartilhar sua história.
Na manhã do anúncio, Matheus despertou com um impulso de autenticidade. “Acordei com uma coragem dentro de mim, e resolvi escrever um texto para publicar nas minhas redes sociais, foi algo libertador, como se eu tivesse tirado um fardo das minhas costas, que eu carregava há anos, por medo do que as pessoas iriam achar ou pensar”, disse ele relembrando o dia.
Na postagem, Matheus expressou: “Hoje, com o coração sincero, compartilho algo muito íntimo, algo que, por muitos anos, eu guardei apenas para mim. Eu sou homossexual. Durante grande parte da minha vida, escondi isso por medo, medo do que os outros pensariam, especialmente minha família. Esse segredo se tornou um fardo insuportável, levando-me ao fundo da depressão. Por muitas vezes, o medo dos julgamentos foi tão intenso que cheguei a pensar em tirar minha própria vida, achando que essa seria a única forma de impedir quem eu realmente sou”.
Matheus continuou sua mensagem ressaltando a importância da aceitação e do amor-próprio: “Viver com esse segredo me levou à escuridão, à solidão, e à uma batalha interna que parecia não ter fim. No entanto, eu estou pronto para viver a minha verdade, não foi fácil chegar até aqui, e sei que ainda há desafios pela frente, mas agora posso dizer que me sinto livre”. A postagem rapidamente ganhou atenção nas redes sociais, com amigos, colegas e seguidores enviando mensagens de apoio e carinho.
TRANSFORMAÇÃO INTERIOR
A motivação para se assumir publicamente veio do desejo de ajudar outras pessoas que, como ele, podem estar lutando contra o medo e a discriminação. “Hoje em pleno século XXI, vivemos uma nova realidade, a homofobia ainda existe, mas não como antes, mesmo sem militar na causa, eu resolvi me assumir publicamente, para poder ajudar pessoas, que assim como eu, vivem aprisionadas, por medo do julgamento alheio. As pessoas precisam entender que o amor é para ser vivido, independente de orientação sexual”, explicou Matheus.
Após seu anúncio, Matheus percebeu uma transformação interna significativa. “Eu sofria muito guardando isso dentro de mim, ao ponto de querer tirar minha própria vida. Por muitos momentos, eu cheguei a pedir a Deus, que me “curasse”, achando que isso era uma doença. Hoje me sinto completamente liberto dessa prisão, vivendo minha vida da melhor forma”, refletiu.
Durante a entrevista, Matheus não hesitou em abordar suas vivências com a homofobia. Ele recordou os tempos de escola, onde o bullying era uma constante. “Sempre sofri homofobia, e com muita frequência no tempo de escola, onde as pessoas me tinham como chacota, pelo fato de ser gay”, relembra.
“No exercício da minha profissão como comunicador, também já fui vítima de ataques em redes sociais, onde as pessoas usavam da minha orientação sexual, para tentar me agredir” relatou Matheus.
Reflexões e a luta contra a homofobia: 257 vítimas de morte violenta em 2023
A luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA é marcada por desafios históricos e conquistas significativas. Desde as revoltas de Stonewall até as marchas do orgulho contemporâneas, o movimento se fortalece a cada dia, buscando igualdade, respeito e aceitação em todas as esferas da sociedade. Em meio a avanços legislativos e à crescente visibilidade cultural, os desafios persistem, com a necessidade de combater a discriminação e promover a inclusão.
Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2023, 257 pessoas LGBTQIA+ foram vítimas de mortes violentas no país. Isso significa que, a cada 34 horas, uma pessoa desse grupo perde a vida de forma brutal, consolidando o Brasil como a nação mais homotransfóbica do mundo.
Nesse contexto, em relação à sociedade, Matheus acredita que houve avanços, mas ainda há um longo caminho pela frente. “Temos leis que nos protegem, mas a luta contra a homofobia não acabou. Muitas pessoas ainda veem os LGBTQIA+ como ‘leprosos’”, lamentou. Ele se compromete a ser uma voz ativa no combate ao preconceito. “Enquanto eu viver, serei um instrumento contra a homofobia. ‘Deus é amor’ e se Jesus amou os improváveis, quem somos nós para julgar e espalhar ódio? ”, finalizou Matheus.