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PREFEITURA SABIA DOS RISCOS E NÃOFEZ NADA PARA EVITAR DESABAMENTO

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Primeiros sinais de problemas na estrutura das casas surgiram há cerca de 3 anos, mas nada foi feito – Foto: Anderson Régis/Diário do RN

Para os moradores da rua Marcassita, no bairro Neópolis, zona sul de Natal, o desabamento que aconteceu logo início da manhã de segunda-feira (21), provocando a interdição de oito casas, era uma tragédia anunciada e negligenciada por órgãos públicos. “Já procuramos por diversas vezes para virem fazer manutenção, mas só limpam o mato e vão embora. Fazia dois anos que reclamamos, pedimos solução e não teve jeito. Nunca vieram dar uma manutenção, não tem fiscalização”, desabafou Antônio Balbino ao reclamar do que classificou como negligência e falta de atenção por parte da Prefeitura de Natal.

O relato do senhor Antônio e de outros moradores está registrado em documentos. O ex-vereador de Natal, Júlio Protásio, passou a manhã no local dando apoio à população e relembrou o histórico de denúncias e a formalização de solicitações e encaminhamentos: “Essa lagoa de drenagem foi construída há 15 anos e tem uma parede grande de contenção, que atinge mais ou menos setes casas que é fundo para a lagoa. Há aproximadamente 3 anos os moradores identificaram rachaduras e as casas começaram a ceder, abrir paredes e até mesmo o piso”.

Ainda de acordo com o ex-vereador, quando os primeiros sinais surgiram, os órgãos competentes (Ministério Público, Seinfra e Defesa Civil) foram informados por ofícios, os moradores formaram comissões e pediram atenção. De lá para cá, nada foi feito e nos últimos 15 dias, com o agravamento da situação, as denúncias se intensificaram: “Há cerca de 15 dias os moradores daqui estão me enviando diariamente vídeos mostrando que as casas estavam cedendo para cair. Esses vídeos foram enviados para o secretário da infraestrutura Carlson Gomes e o secretário disse que só iriam fazer a vistoria depois que a urbana fizesse a limpeza”.

A limpeza parcial aconteceu na última sexta-feira (19), mas não foi possível concluir: “O presidente da urbana fez um vídeo dizendo que não ia continuar a limpeza porque corria risco de os próprios funcionários da urbana serem machucados com um desabamento. Isso tudo foi informado ao secretário e infelizmente a prefeitura aguardou até o desastre para poder agir”, afirmou Júlio Protásio.

DESESPERO
Em meio ao cenário de destruição e incertezas, chamava atenção a imagem de uma criança sentada na calçada aos prantos. Desconsolado, o menino de 10 anos falou da tristeza que sentia pela situação que sua família estava vivendo e não queria sair de casa.

Outros moradores relataram os momentos de tensão e desespero que viveram nas primeiras horas da manhã da segunda-feira. Vanessa conta como foi abrir a porta e não ver o chão: “Aconteceu por volta das 6 horas da manhã, estávamos dormindo e escutamos o barulho. Foi quando abri a porta lá de trás que direcionava para área de serviço e já tinha desabado tudo, não tinha mais chão. A parte de trás da casa foi toda destruída”.

A dona de casa Luzimar Medeiros, 53 anos, também foi acordada com o barulho do desmoronamento: “Quando foi ‘6 e pouca’ acordamos assustados, com o barulho de tudo desabando. Perdi toda minha área de serviço, as minhas vizinhas também tiveram suas casas atingidas, as paredes foram embora também”.

No caso de ‘seu Antônio’, a casa não foi atingida diretamente, mas o imóvel foi isolado pela Defesa Civil. Apesar do risco, ele afirma que não sairá do local: “Eles interditaram minha casa, colocaram uma fita proibindo de entrar, mas acho que aqui não tem risco não. Não vou sair, se eu perceber que ‘está para cair’, aí eu saio. Além disso, eu não teria para onde ir não”.

Presidente da Urbana relatou em vídeo o risco de acidente no local
Enquanto trabalhadores da Urbana faziam a limpeza no entorno da Lagoa de Captação da Rua Ouro Preto em Neópolis, na última sexta-feira, o diretor presidente da Urbana, Joseíldes Medeiros, registrou em vídeo detalhes que apontavam a fragilidade da estrutura do muro de contenção, além de relatar a dificuldade para execução do serviço de manutenção já que colocava em risco os próprios trabalhadores.

“Tá ‘coisando’ muito risco pra poder fazer aqui. Aí é por isso que a gente não vai fazer. Tá tudo rachado aqui, as parede é tudo caindo e eu vou já sair daqui”.

Indagado sobre o recebimento do vídeo e as providências adotadas, o secretário de infraestrutura, Carlson Gomes, explicou que ainda aguardava o término do serviço: “Os trabalhadores da Urbana estavam atuando na sexta-feira e iria continuar hoje (segunda-feira), mas aconteceu esse acidente. Nós estávamos esperando o término dessa limpeza porque não conseguíamos analisar com o muro cheio de entulhos, então assim iriamos analisar a situação do muro”.

A declaração do secretário não condiz com a fala do presidente da Urbana que, no vídeo, afirma não ter condições de manter os trabalhadores no local. Segundo apuração da reportagem, o cronograma das equipes de limpeza também não previa serviços na região nesta segunda-feira.


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