Uma nova variante do vírus do HIV descrita como “altamente virulenta” foi revelada nesta quinta-feira, 3, em um artigo na revista científica Science.
Batizada como “variante VB”, abreviação em inglês para “variante virulenta do subtipo B”, ela demonstrou ser capaz de levar a uma maior carga viral no sangue em comparação com outros tipos do vírus; de ser mais transmissível; e de diminuir mais rapidamente as células de defesa T-CD4 do corpo.
Os autores da pesquisa, liderada por uma equipe da Universidade Oxford (Inglaterra), estimam que a variante surgiu na Holanda entre o final dos anos 1980 e a década de 1990, se espalhou nos anos 2000 e passou a perder força a partir de 2010. Mas esta é a primeira vez que a variante é descrita e mapeada em indivíduos — a infecção pela VB foi confirmada em 109 pessoas analisadas no estudo, a grande maioria na Holanda (os pesquisadores detectaram também um caso na Suíça e outro na Bélgica).
Um dos autores, o pesquisador Chris Wymant, explicou por e-mail à BBC News Brasil que os resultados não devem preocupar a população, porque a resposta ideal a essa e outras variantes do HIV já existe: testes e tratamento.
Aliás, está aí uma boa notícia do estudo. Em comparação com outros tipos de HIV, a variante VB mostrou ser mais virulenta, transmissível e agressiva em pessoas que ainda não tinham passado por tratamento. No entanto, depois do tratamento, pessoas com a variante VB passaram a apresentar recuperação de células CD4 e indicadores de mortalidade semelhantes aos daquelas com outros tipos de HIV.
O HIV é o vírus que causa a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). A Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids) estima que 37,7 milhões de pessoas viviam com HIV no mundo em 2020, ano em que ocorreram 1,5 milhão de novas infecções. Naquele ano, estima-se que 680 mil pessoas morreram por problemas de saúde relacionados à Aids (contra 1,9 milhão em 2004 e 1,3 milhão em 2010).
Em 2020, 73% das pessoas com HIV tinham acesso a tratamento, hoje feito à base de medicamentos — muitas vezes apenas uma pílula tomada diariamente — e considerado muito eficaz.
O HIV tem alguns subtipos, fortemente relacionados à localidade. Por exemplo, na África, os subtipos mais comuns são A, C e D; na Europa, o subtipo B. Segundo um estudo publicado no ano passado, no Brasil, o subtipo B também é o mais frequente.
Wymant explica que, dentro dos subtipos, há a ramificação em variantes.
“Encontrar uma nova variante é normal, mas encontrar uma nova variante com propriedades incomuns não é. Especialmente uma com maior virulência”, diz o pesquisador.
No momento do diagnóstico, antes do tratamento, pessoas com a variante VB apresentaram uma carga viral 3,5 a 5,5 vezes maior do que aquelas com outros tipos de HIV; a taxa de declínio das células CD4 foi duas vezes mais veloz, colocando-as sob risco de desenvolver a Aids muito mais rápido.
Os pesquisadores dizem que, possivelmente, a variante foi resultado de mutações que aconteceram ao longo do tempo e só foi revelada agora por alguns motivos — como o fato de o sequenciamento genético de amostras de pessoas com HIV ser relativamente recente.
A investigação sobre a variante começou porque cientistas envolvidos no projeto BEEHIVE detectaram 17 indivíduos com uma carga viral atipicamente alta. O BEEHIVE foi criado em 2014 com o objetivo de monitorar a influência da genética nas infecções pelo HIV, e faz isso acompanhando a saúde de pacientes em países da Europa e em Uganda. Conforme os pesquisadores foram analisando geneticamente as amostras destes e mais pacientes, detectaram uma nova variante.
Com informações da BBC NEWS