INVENÇÃO DE PESQUISADORES DA UFRN PODE BENEFICIAR INDÚSTRIA CERÂMICA
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Um processo de produção de tijolos cerâmicos, utilizando solo contaminado com resíduo de petróleo, foi patenteado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A invenção, no entanto, não se limita à fabricação de tijolos, pois o método pode ser aplicado a outros produtos cerâmicos essenciais para o sistema construtivo brasileiro, como telhas, blocos e pisos.
É o que relata o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPGCEM), Carlos Alberto Paskocimas. Ele salienta ainda que o processo tem como uma de suas facilidades a utilização direta nos processos de fabricação já existentes, sem a necessidade de modificações na estrutura de produção. “É interessante também que essa matéria-prima da qual partimos, no caso com uma proposta de adequação de resíduos da indústria de petróleo, do solo contaminado com resíduo de petróleo, propicia uma capacidade de melhorar os atributos técnicos dos produtos cerâmicos. Nessa perspectiva, na ocasião de realização do projeto em parceria com a Petrobras, foram obtidos blocos cerâmicos e tijolos cerâmicos em escala de protótipo”, identifica.
Mais especificamente, a patente propõe o uso dos solos contaminados com resíduos de petróleo provenientes do processo de perfuração de poços de petróleo e de extração de petróleo, ambos em terra, e que resultam num material de composição físico-química e estrutura característica, denominado pelas empresas do setor de petróleo como solo contaminado com petróleo. Esses resíduos são monitorados rigidamente por essas empresas, suas ocorrências são removidas de imediato, e as parcelas de solos que sofreram contaminação com fluidos de petróleo são transportadas para uma unidade de calcinação, para aquecimento em fornos rotativos para oxidação da matéria orgânica contaminante, neutralizando a sua atividade.
Após esse processamento, o solo contaminado é denominado solo calcinado, que é classificado como um resíduo inerte que, deste modo, será enviado para uma área de armazenamento em aterros industriais, na qual deverá permanecer sob monitoramento até que seja encontrada uma aplicação tecnológica para esses resíduos – é o caso deste patenteamento. “Esse solo calcinado também é uma fonte de custo, visto que consome energia e recursos empresariais para ser produzido e ainda permanece como um passivo ambiental que demanda monitoramento permanente”, frisa Paskocimas.
O produto da patente é vinculado diretamente à indústria de cerâmica estrutural, e a concessão dela, recebeu o nome “Processo de produção de tijolos cerâmicos e de blocos cerâmicos à base de solo contaminado com resíduo de petróleo e respectivas formulações”. A tecnologia é fruto de uma parceria entre a UFRN, a Petrobras e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), envolvendo, além de Paskocimas, Fred Amorim Salvino, Márcio Luiz Varela Nogueira de Moraes, Alex Micael Dantas de Sousa, Márcia Jordana Campos dos Santos, Renata Maria Sena Brasil Leal, Fabiana Villela da Motta e Mauricio Roberto Bomio Delmonte.
Outro diferencial apontado por Paskocimas está no uso de resíduos que podem ser adequados para adquirirem a condição de matérias-primas industriais, situação que permite a redução do consumo de argilas, recursos naturais não renováveis que são consumidos de modo intensivo em grandes volumes pelas indústrias cerâmicas. “Nosso grupo de pesquisa tem essa vertente sempre pulsando, haja vista que seguimos pesquisando sobre resíduos minerais e industriais, com foco nos resíduos produzidos dentro do Estado do Rio Grande do Norte”, acrescenta o docente.
Com um currículo que compreende quase quarenta depósitos de patente realizados através de instituições públicas, como UFRN, Petrobras e Fapesp, bem como pela iniciativa privada, como Companhia Siderúrgica Nacional e Icra, Paskocimas enfatiza que a geração de patentes é uma forma de visualização mais direta pelo setor industrial das potencialidades que são criadas no meio acadêmico, “uma vez que são entendidos como produtos tecnológicos e que desta forma comprovam e permitem comparar as capacidades de geração de conhecimentos tecnológicos pelas e entre as instituições acadêmicas e servem como um sinalizador para as empresas interessadas em desenvolver projetos tecnológicos em parceria com as Universidades”, finaliza.