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ESTEATOSE HEPÁTICA: NOME DIFÍCIL PARA UM MAL SILENCIOSO E PERIGOSO

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Você já ouviu falar em esteatose hepática? Quem tem gordura no fígado sabe muito bem o que significa. Pois bem, para explicar o que é, quais os principais sintomas, riscos, complicações e as opções de tratamento, o Diário do RN ouviu o hepatologista e gastroenterologista Arthur Nobre, médico formado pela UFRN e que possui doutorado em Ciências em Gastroenterologia pela USP.

Diário do RN – O que é a esteatose hepática?
Arthur Nobre – A Esteatose Hepática é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura nas células do fígado. Esse acúmulo pode ser classificado em duas categorias principais: a esteatose hepática alcoólica, causada pelo consumo abusivo e crônico de álcool, e a esteatose hepática metabólica (também conhecida como Doença Hepática Esteatótica Metabólica), que ocorre principalmente em pessoas com fatores da síndrome metabólica. Essas categorias podem se sobrepor, associando maior velocidade de evolução da doença e potenciais complicações.

Diário do RN – Quais são os principais fatores de risco para desenvolver esteatose hepática?
Arthur Nobre – Os fatores de risco para a esteatose hepática incluem:

  • Obesidade: O excesso de peso é um dos principais determinantes do acúmulo de gordura no fígado. A gordura visceral, que se acumula na região abdominal, é especialmente prejudicial.
  • Diabetes tipo 2: A resistência à insulina, comum em pessoas com diabetes tipo 2, contribui para o acúmulo de gordura hepática.
  • Dislipidemia: Níveis elevados de lipídios no sangue, como colesterol elevado e triglicerídeos, estão frequentemente associados à esteatose hepática.
  • Sedentarismo: A falta de atividade física está ligada ao aumento do peso corporal e à resistência à insulina, agravando o risco de esteatose.
  • Dieta inadequada: Uma alimentação rica em açúcares simples, gorduras saturadas e calorias em excesso é um fator importante para o desenvolvimento da doença.
  • Fatores genéticos: Algumas pessoas podem ter uma predisposição genética a desenvolver esteatose hepática, o que pode ser exacerbado por hábitos de vida pouco saudáveis.
  • Uso de medicamentos: Certos medicamentos, como corticosteroides, antirretrovirais e tamoxifeno, também podem contribuir para o desenvolvimento de esteatose hepática, afetando o metabolismo lipídico e aumentando o acúmulo de gordura no fígado.

Diário do RN – Quais as complicações da esteatose hepática?
Arthur Nobre – A esteatose hepática pode levar a várias complicações sérias se não for tratada adequadamente. Uma das principais complicações é a progressão para a esteato-hepatite crônica, que é caracterizada pela inflamação progressiva do fígado. Essa condição pode resultar em fibrose hepática, onde o tecido do fígado se torna cicatrizado e menos funcional. Com o tempo, a fibrose pode evoluir para cirrose, uma condição grave que pode levar à insuficiência hepática e aumentar o risco de câncer de fígado, entre outras complicações. Além disso, a esteatose hepática está frequentemente associada a outras condições metabólicas, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Portanto, o manejo adequado da esteatose hepática é crucial não apenas para a saúde do fígado, mas também para a prevenção de complicações sistêmicas que podem comprometer a qualidade de vida e a longevidade do paciente.

Diário do RN – Quais são os sintomas da esteatose hepática?
Arthur Nobre – A esteatose hepática é frequentemente assintomática, o que significa que muitas pessoas não apresentam sinais ou sintomas evidentes. No entanto, alguns pacientes podem relatar fadiga e desconforto abdominal com predomínio em flanco direito. Para os casos em que a esteatose evolui para cirrose hepática, os pacientes podem apresentar icterícia (coloração amarelada da pele e olhos), dor abdominal intensa, inchaço abdominal (ascite), sangramento digestivo e outros sinais de insuficiência hepática.

Diário do RN – Como é feito o diagnóstico da esteatose hepática?
Arthur Nobre – O diagnóstico da esteatose hepática pode envolver várias etapas:

  • História clínica: O médico primeiro realiza uma avaliação dos sintomas, histórico e fatores de risco do paciente.
  • Exames laboratoriais: Exames de sangue são cruciais para verificar a função hepática e para detectar a presença de enzimas hepáticas elevadas, que podem indicar inflamaçãom. Também são avaliados os níveis de lipídios e glicose no sangue para identificar condições associadas, como diabetes e dislipidemia.
  • Exames de imagem: A ultrassonografia abdominal é o exame mais utilizado para detectar gordura no fígado. Outros métodos, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, também podem ser usados para uma avaliação mais detalhada. A elastografia hepática, independente do meio onde é feita, é o método diagnóstico não invasivo de maior acurácia para estimar esteatose e fibrose hepáticas.

Diário do RN – Quais são as opções de tratamento para a esteatose hepática?
Arthur Nobre – O tratamento da esteatose hepática é fundamentalmente centrado em mudanças no estilo de vida, e é importante destacar que não existe um remédio “milagroso” que resolva a condição. A complexidade da doença exige uma abordagem multifacetada e uma série de intervenções integradas, que podem incluir:

  • Mudanças na dieta: A adoção de uma dieta equilibrada, que inclua frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, é essencial. A redução do consumo de açúcares e gorduras saturadas pode ajudar a diminuir o acúmulo de gordura no fígado.
  • Exercícios físicos: O aumento da atividade física, com a prática regular de exercícios aeróbicos e de resistência, contribui para a perda de peso e melhora a sensibilidade à insulina.
  • Perda de peso: Em casos de sobrepeso ou obesidade, a perda de peso gradual (cerca de 5 a 10% do peso corporal) pode ser muito benéfica na reversão da esteatose hepática. O foco deve ser em mudanças sustentáveis e a longo prazo.
  • Tratamento de condições associadas: É importante tratar condições como diabetes e dislipidemia, utilizando medicamentos quando necessário. O controle dessas condições pode ajudar a reduzir a carga sobre o fígado.
  • Medicamentos: deve-se avaliar caso a caso quanto à necessidade de introdução de medicamentos com potencial benefício em controlar o processo inflamatório hepático (Ex.: vitamina E, pioglitazona e análogos do GLP-1) ou que atuem diretamente na perda de peso (orlistate e análogos do GLP-1). Recentemente foi lançado nos EUA um medicamento que reduz o grau de fibrose hepática (resmetirom), o único liberado até o momento com esse benefício confirmado; no entanto, este ainda não está disponível no Brasil, além do preço elevado o tornar praticam.
  • Acompanhamento médico: Consultas regulares com um hepatologista são importantes para monitorar a progressão da doença e prevenir complicações. A avaliação contínua permite ajustes nas intervenções e garante que o paciente receba o suporte necessário.
    Essas abordagens podem ajudar a controlar a doença e melhorar a saúde do fígado a longo prazo, reduzindo o risco de complicações.

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