Em meio à crise de superlotação do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, maior hospital de urgência e emergência do Rio Grande do Norte, a secretária estadual de Saúde, Lyane Ramalho, afirmou nesta segunda-feira (25) que 70% dos atendimentos de ortopedia da unidade de saúde são de baixa e média complexidade. O dado foi divulgado no programa 12 em Ponto, da 98 FM Natal, e faz parte de um relatório concluído nesta segunda pela gestora.
Os números chegam no momento em que a Secretaria de Saúde do Estado (Sesap) vive um impasse com municípios da Grande Natal que se opõem a uma proposta da Sesap para criação de um sistema compartilhado de atendimento ortopédico de baixa e média complexidade na região.
O objetivo com o consórcio é desafogar a fila de espera do Walfredo Gurgel.
“A gente tem plena certeza de que se a gente não atuar na organização dessa rede de baixa e média complexidade, nós não conseguiremos resolver [a superlotação do Walfredo Gurgel]. E aí, o terceiro eixo do plano de contingência é exatamente a implantação de um serviço de baixa e média complexidade”, disse Lyane Ramalho.
“É uma questão de a gente entender que o Walfredo Gurgel precisa assumir, de uma vez por todas, o seu perfil. Aquele paciente de baixa complexidade que adentra o Walfredo Gurgel está ocupando o leito de um idoso, de uma pessoa que sofre politraumatismo da cabeça”, completou a secretária.
“Traição”
Em nota divulgada na última sexta-feira (22), a Federação dos Municípios do RN (Femurn) e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do RN (Cosems) se manifestaram contrariamente à proposta do Governo do Estado de dividir os custos dos atendimentos ortopédicos com os municípios.
De acordo com Lyane Ramalho, o presidente da Femurn, Luciano Santos, esteve em reunião para tratar sobre o acordo e não se opôs durante o encontro. Para a secretária, o sentimento é de traição.
“Nós recebemos a nota e recebemos com muita indignação. Porque, primeiro, tivemos uma reunião com a presença da governadora e a Femurn, inclusive, Dr. Luciano estava presente na reunião, e nada disso ele falou na reunião. (…) fizemos a reunião, foi excelente. No outro dia, recebo essa nota da Fermurn e do Cosems. A pessoa se sente até traída porque, enfim, na reunião, não foi dito nada disso. Se era para dizer, dissesse na reunião, à própria governadora”, afirmou.
Recusa de municípios não impedirá implantação
Ainda segundo a secretária, mesmo que haja recusa dos municípios da Região Metropolitana em dividir os gastos, o serviço será implementado. “Com a implantação desse serviço de baixa e média complexidade, que deverá ser aqui nos arredores de Natal ou em Natal. Mesmo que os Municípios não aceitem, a gente vai fazer essa implantação, a gente vai fazer essa discussão com o Ministério Público porque há necessidade desses pacientes saírem de dentro do Walfredo Gurgel. Apenas a gente não sabe, ainda, como isso vai se dar”.
Leitos bloqueados
Ainda durante a entrevista, a Secretária Liane Ramalho afirmou também que uma das dificuldades é encontrar leitos nas redes municipais que possam ser usados para encaminhamento de pacientes e reclamou que os municípios têm reduzido o número de vagas.
“A gente está abrindo leitos e os municípios estão fechando leitos. (…) A gente precisa ter condições de usar a rede como um todo e não só a rede estadual. A gente quase não tem leito bloqueado porque utiliza a nossa rede no topo. O que a gente precisa é enxergar onde nós podemos utilizar leitos fora de rede estadual. A gente tem certeza absoluta que existem leitos em outros Municípios que nós deveríamos estar conseguindo encaminhar pacientes, porém, a gente não tem força para isso”, ressaltou.