O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, direcionou R$ 1,4 milhão do orçamento secreto para a construção de um mirante turístico no município potiguar de Monte das Gameleiras. Uma curiosidade é que a obra será ao lado de um terreno do ministro, onde está previsto para ser construído um empreendimento particular de 100 casas, o “Condomínio Clube do Vinho”, de acordo com informações do jornal O Estado de São Paulo.
A construção será realizada em parceria com Francisco Soares de Lima Júnior, assessor de confiança de Marinho no ministério, em uma área de 100 hectares. O ministro negou ter sido o autor dos pedidos de repasse das verbas em uma audiência pública da Comissão de Trabalho, Administração e Serviços Públicos da Câmara Federal, realizada no último dia 8 de junho.
Entretanto, a publicação teve acesso a duas planilhas de execução orçamentária do Ministério do Turismo que apontam Rogério Marinho como autor e também agente político da indicação dos recursos. “Não fui eu que solicitei. Foi o deputado Beto Rosado”, afirmou o ministro na época da audiência.
Confrontado com os documentos em que aparece como autor das solicitações repasse, Marinho admitiu ao jornal Estado de São Paulo que fez as solicitações de verba, porém, declarou que os repasses foram solicitados à pedido de Beto Rosado.
Ao ser procurado pelo jornal, Rosado confirmou a versão de Marinho, mas não apresentou nenhum documento que pudesse comprovar que a solicitação da verba tinha sido um pedido seu.
Para chegar à autoria do pedido, foi feita série de pedidos através da Lei de Acesso à Informação (LAI). Assim, o “Estadão” chegou ao quadro geral de execução de emendas, onde consta o nome do titular do Ministério do Desenvolvimento Regional.
O valor para construir o mirante foi reservado dez dias após o pedido de Marinho, em 31 de dezembro do ano passado, tendo como fonte a emenda-geral de relator do orçamento, conhecida como PR9, base do orçamento secreto. Esse esquema, de acordo com o jornal, foi montado pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido) para possibilitar que um determinado grupo de políticos manejasse quantias do orçamento sem ser possível identificar de onde partiu a ordem, o que fere a Constituição Federal.
O ministro Rogério Marinho é proprietário de 94% do capital social da empresa Gameleira Vida Empreendimentos Imobiliários SPE, responsável pelo empreendimento em Monte das Gameleiras. No negócio, o ministro tem como sócios a irmã Valéria Marinho e o assessor Francisco Soares de Lima Júnior.
Utilizando espaço na TV São Gonçalo, o experiente jornalista Alexandre Carlos Cavalcante Neto, que também já foi deputado estadual, mas prestou seus serviços profissionais em vários veículos de comunicação, abriu o seu comentário desta segunda-feira (19) para falar da política estadual.
Alexandre Cavalcante faz uma análise das últimas pesquisas com foco na disputa pelo governo do estado.
Hoje se inicia mais uma semana, e com ela, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN) irá retomar os seus trabalhos com o desenvolvimento das atividades legislativas. Diante da aproximação das eleições, os debates começam a ficar mais calorosos entre partidários da base do governo e parlamentares que fazem oposição ao sistema governamental.
Na última sexta-feira (16), o deputado Vivaldo Costa (PSD), que também luta contra o seu próprio partido na justiça para ter o direito de se posicionar favoravelmente ao governo, falou das críticas feitas pelos parlamentares sobre a atuação da Governadora Fátima Bezerra (PT). O deputado afirmou que, frequentemente, ouve críticas infundadas feitas por deputados contra a gestão estadual, “e isso dificulta o diálogo desses parlamentares com o Governo do Estado”.
Para ser mais explícito em suas colocações, o deputado Vivaldo Costa, que também disputa com o deputado Nelter Queiroz por mais espaços políticos na região do Seridó, fez severas críticas ao seu conterrâneo de região e disse que “o deputado Nelter Queiroz tem feito críticas injustas contra a governadora, por isso, eu sai do meu silêncio para protestar. Ele deveria saber que nenhum governo vai atender aquelas pessoas que criticam, que difamam, que injuriam, isso é elementar. Todo mundo sabe que a governadora é responsável, trabalhadora, séria, honesta e está fazendo de tudo para administrar em um período de crise sem precedentes no nosso Estado”.
No reinício dos trabalhos desta semana, a tônica ficará por conta dos trabalhos paralelos das duas Comissões Parlamentares de Inquérito, sendo uma delas a que investiga as contas da Arena das Dunas, e a outra, a que investiga as contas da governadora Fátima Bezerra com os gastos durante a pandemia da Covid-19.
Quase todas as gestões estaduais, ainda no século passado, e também neste século XXI, deixaram as suas marcas como contribuição ao desenvolvimento econômico e social do Rio Grande do Norte. Cada um no seu tempo e dentro de suas realidades. Podemos dizer que os governos do século passado foram até mais ousados, conviveram melhor com as necessidades da época e prestaram suas contribuições, embora não disponibilizassem dos avanços tecnológicos que temos nos dias de hoje.
Podemos relembrar o governo udenista de Dinarte Mariz que possibilitou a implantação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), considerada força motriz para o desenvolvimento cultural, educacional e de preparação de mão de obra categorizada em vários segmentos, expoente do saber e da ciência. Na gestão de Aluizio Alves, o estado ganhou a chamada energia de Paulo Afonso que veio tirar o estado da escuridão para impulsionar o nosso desenvolvimento econômico.
O governador Cortez Pereira, em curto tempo, marcou sua gestão com a criação das Agrovilas e estimulou a cultura do camarão, que ocupou destaque na pauta de nossas exportações, enquanto Tarcísio de Vasconcelos Maia trabalhou a infraestrutura do turismo no Estado.
Lavoisier Maia planejou e executou a Via Costeira (se fosse hoje, certamente os eco-chatos impediriam essa construção), interiorizou o turismo, e José Agripino completou o ciclo Maia com a construção de estradas, consolidando o crescimento do turismo como fonte de riqueza para o RN e implantou programas sociais que despertaram o interesse do homem do campo numa participação familiar mais ativa e eficiente junto à economia do estado.
Vivemos os ciclos do algodão, da cana-de-açúcar e dos minérios sheelita e sal marinho. Todos esses ciclos foram importantes para o Rio Grande do Norte, sem perdurar na sua importância.
Já o governo Garibaldi Filho foi místico. Os planetas estavam em transição. Saíamos do século XX para o limiar do século XXI. E quando ainda não havia uma compreensão coletiva da necessidade do encolhimento do Estado, eis que o governador foi de encontro aos interesses de muitos, se desfez da estatal Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte (COSERN) – que por muito tempo também serviu de cabide de empregos para apadrinhados políticos e gerava prejuízos financeiros aos cofres públicos – fez caixa para investir em adutoras e se tornou o “Governador das Águas”.
A gestão Wilma de Faria, iniciada em 2003, planejou impulsionar o desenvolvimento do RN através de energias renováveis, que já despertara o interesse de todo o mundo. Tínhamos a matéria prima natural: vento e sol, mas nos faltava planejamento e investidores. E foi a partir dessa gestão, através de um técnico importado, que mais tarde se tornaria Senador do RN, que Vilma consolidou o seu governo e depois ganhou repercussão popular junto ao maior eleitorado do estado com a construção da Ponte Newton Navarro.
Enquanto o Rio Grande do Norte continuava a desfrutar dos resultados com o funcionamento da UFRN, da energia de Paulo Afonso, as Agrovilas se transformaram no município de Serra do Mel, que produz alimentos e energia eólica, mas a cultura do camarão, se não prosperou para alimentar nossa pauta de exportação como o previsto, pelo menos alimenta a população internamente.
Por outro lado, a infraestrutura criada para impulsionar o turismo foi representativa para a interiorização da atividade, a produção agrícola familiar cresceu graças ao avanço hídrico através das adutoras, que também sanaram a sede da população de vários municípios. Sem falar que as instalações de parques eólicos geraram empregos e impostos para o Estado e aos municípios, além de terem contribuído com o crescimento energético do país sem causar danos ao meio ambiente. Mesmo assim, ao que parece, não saímos da extrema pobreza.
Na ultima década, o único projeto novo que surgiu no Rio Grande do Norte foi o empréstimo requerido junto ao Banco Mundial, da ordem de 1 bilhão de reais, conquistado pela governadora Rosalba Ciarlini Rosado, que, por sinal, quase não usufruiu desses recursos. Nada de novo surgiu. A gestão Robinson Faria, que involuntariamente atrasou os salários dos servidores públicos, apenas investiu os recursos do Banco Mundial nas várias áreas do governo, mas nada se destacou por conta da cortina de fumaça inexoravelmente criada pelo atraso dos salários.
A gestão Fátima Bezerra bem que poderia ter sido diferente. Mentes arejadas e vontade de fazer mudanças, mas não tem nada de novo. Apenas se ampara nos recursos advindos do empréstimo do Banco Mundial, administrado pelo seu invisível adversário Fernando Mineiro para reformar escolas, construir sedes de Centrais do Cidadão e Hospitais, mesmo sem saber como mantê-los. Mas graças à eficiência de uma equipe capitaneada às quatro mãos por Carlos Eduardo Xavier, o Cadu, da Tributação, e por José Aldemir Freire, do Planejamento, conseguiu o ineditismo de colocar em dia o pagamento dos servidores estaduais. Parabéns e vivas para Fátima.
Mas faltou o importante. Faltou saber utilizar melhor a capacidade técnica de seu suplente e hoje senador Jean Paul Prates. Esse sabe os caminhos para melhor fomentar o desenvolvimento de um estado pobre, mas de riquezas naturais imensuráveis. Foi ele que deu norte desenvolvimentista à gestão de Wilma de Faria. Mas Fátima fez “birra” com o governo de Bolsonaro. Não soube distinguir o joio do trigo, misturou alhos com bugalhos e ignorou a presença de dois ministros conterrâneos na gestão Bolsonaro simplesmente por serem seus adversários políticos.
Por sua vez, Jean Paul sabe que o governo estadual poderia ter captado recursos federais para a infraestrutura das nossas malhas viária e ferroviária, como também sabe que existe um projeto da construção de um novo porto para o Rio Grande do Norte. É um novo porto que poderá escoar todo o minério produzido na região do Seridó, a partir de Jucurutu. Entretanto, para isso se consolidar, precisaria haver uma convergência de interesses entre os governos estadual e federal. Ele, Jean, também poderia ter sido mais audacioso, menos envolvido com as picuinhas do seu Partido dos Trabalhadores (PT) e mostrado que acima de tudo estavam os interesses de um pobre estado, quase agonizante. Mas a birra do PT com Bolsonaro foi mais forte que os interesses do Rio Grande do Norte.
Por isso que se diz que a governadora Fátima Bezerra poderia ter sido muito mais ousada para deixar a marca desenvolvimentista de sua gestão. Por enquanto, fica a minúscula marca de ter colocado em dia o pagamento dos servidores estaduais. O que é pouco para quem serviu de palmatória às gestões, sejam municipais, estaduais ou federais, por quatro décadas.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entrou pela porta dos fundos do Hotel Intercontinental Barclay, em Nova York, devido à presença de manifestantes contra o governo na frente do prédio. O chefe do Executivo Federal está na cidade para participar da Assembleia-Geral da ONU.
Na porta do hotel, o grupo de manifestantes gritava em inglês e português “Bolsonaro genocida” e “criminoso”.
Seguranças e diplomatas esperavam Bolsonaro na entrada do local, mas informaram à imprensa que a comitiva presidencial havia entrado por uma porta traseira devido a determinações do Serviço Secreto americano.
Na última vez que esteve em Nova York para participar da Assembleia-Geral, no ano de 2019, Bolsonaro encontrou à sua espera protestos favoráveis e contrários a seu governo e entrou no hotel pela porta da frente.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus ministros tiveram refeição no meio da rua após chegada à Nova York para participar da 76ª Assembleia-Geral da ONU. Diante das restrições em locais públicos da cidade devido à pandemia do novo coronavírus, Bolsonaro, que alega não ter sido vacinado, pode ser impedido de entrar em estabelecimentos, que exigem comprovante de vacinação.
Em fotografia divulgada pelo ministro do Turismo, Gilson Machado, o chefe do Executivo Federal aparece comendo pizza em uma calçada. Na foto ainda estão presentes o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga; da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos; da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres; e o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães.
A rigidez em Nova York e por parte da ONU quanto aos protocolos contra a covid-19, chegou a pôr em dúvida a participação de Bolsonaro na Assembleia. A Organização, porém, se pronunciou afirmando que não seria exigido comprovante de vacinação dos chefes de Estado.
Conforme anunciado pela governadora Fátima Bezerra (PT), a cidade de Angicos ganhou neste domingo (19) um monumento em homenagem ao centenário do patrono da educação brasileira, Paulo Freire.
O nome da escultura, Quarenta Horas de Angicos, é referência ao trabalho pioneiro do educador no município do interior do Rio Grande do Norte, quando Freire educou 380 trabalhadores em 40 horas.
“Que a memória de Paulo Freire seja eternizada neste chão sagrado que ele pisou, e onde construiu a base prática da sua pedagogia, tão admirada mundo afora”, destacou a governadora Fátima Bezerra, ao anunciar a inauguração. A obra é de autoria do artista Guaraci Gabriel.
A seleção feminina de vôlei mostrou superioridade e levou mais um título do campeonato Sul-americano de voleibol feminino. O título veio em partida neste domingo (20) contra as anfitriãs, a seleção colombiana.
O jogo teve início às 22h, horário de Brasília. O Brasil entrou em quadra tranquilo, precisando vencer apenas um set para garantir o título da competição, reflexo da excelente campanha que vinha fazendo. Entretanto, o que ninguém esperava era uma Colômbia consistente e confiante, embalada pela torcida que estava presente em peso no ginásio.
A pressão começou desde o início do jogo, as colombianas, em excelente começo de partida, emplacou um 2 a 0 em sets na seleção brasileira. O set que consagrou o título foi o terceiro que, mesmo equilibrado, o Brasil conseguiu administrar bem e vencer por 26 a 24. O quarto set seguiu com equilíbrio entre as equipes. A Colombia conseguiu fechar e levar a partida em 3 a 1. O Brasil garante o título no critério de desempate, além da classificação para o mundial.
Assim como no masculino, a seleção feminina mantém hegemonia na América do Sul, chegando ao 22º título. Apenas o Peru ganhou a competição além do Brasil, última vez na década de 90.
O ex-deputado federal e ex-ministro Henrique Eduardo Alves esteve ontem junto à governadora Fátima Bezerra (PT), na inauguração da escultura “Quarenta horas de Angicos”, em homenagem ao centenário do educador pernambucano Paulo Freire, instalada no quilômetro 180 da BR 304, à sombra do pico do Cabugi. Na ocasião, Henrique parabenizou a gestora pelo evento e disse que Paulo Freire e Aluízio Alves estariam, naquele momento, assistindo juntos ao evento, “do bom lugar que estão”.
“Parabéns, governadora, porque hoje vivemos tempos estranhos em que um torturador é reverenciado e um educador da qualidade, da genialidade, do talento, da alma do bem é defenestrado pelo Ministério da Educação”, disse, para em, seguida, pedir uma salva de palmas a Paulo Freire.
“Eu vou encerrar, governadora, imaginando, nesta hora, lá no bom lugar que eles estão, Aluízio e Paulo Freire, devem estar juntos, olhando para nós que estamos aqui. E eu, que conheço meu pai, [acho que] ele deve estar dizendo: Paulo Freire, olha ali as gerações de ontem, de hoje e do amanhã usando seu verbo ‘esperançar’ para a educação, para o futuro, para a liberdade do povo brasileiro”, encerrou Alves.
Há mais de seis anos afastado da política, Henrique Alves estaria planejando um retorno às urnas em 2022, apesar de responder a ações na Justiça por corrupção. Ele teve 11 mandatos como deputado federal e chegou a presidir a Câmara dos Deputados de 2013 a 2015.
O Blog Tulio Lemos recebeu uma informação, neste sábado (18), de que o presidente da Câmara Municipal de Parnamirim, Wolney França (PSC), estaria cooptando alguns vereadores e oferecendo vantagens dentro da Casa Legislativa para aprovar a possibilidade de reeleição da mesa diretora.
O fim da recondução de parlamentares para diretoria da Câmara de Parnamirim em eleição imediatamente subsequente foi estabelecido em dezembro de 2020, após votação comandada pelo ex-presidente Irani Guedes (Republicanos).
Segundo informações da fonte do Blog, que pediu para ter sua identidade preservada, neste sábado França ofereceu um almoço aos demais vereadores de Parnamirim visando conquistar sua reeleição à presidência.
A votação para decidir se será permitida ou não a recondução à mesa diretora está marcada para terça-feira (21), mas o retorno da pauta ao plenário está sendo criticada por uma parte dos parlamentares.
O Corpo de Bombeiros foi acionado às 13h30 deste domingo para um chamado de urgência na Praia da Redinha, Zona Norte de Natal. De acordo com o relato prévio, quatro pessoas estavam sendo arrastadas pela correnteza no local.
Uma unidade de salvamento da Redinha, assim como a equipe do helicóptero Potiguar 01 e outra guarnição, que estava na praia do Meio, participaram da tentativa de resgate.
Um surfista entrou na praia e conseguiu resgatar uma das vítimas, enquanto outra foi retirada da água por salva-vidas, segundo a equipe dos bombeiros.
As duas pessoas resgatadas receberam atendimento e foram encaminhadas ao hospital.
Outras duas pessoas, que não tiveram a identidade confirmada, morreram. Uma terceira pessoa que estava na água, que é uma adolescente de 15 anos, ainda não foi encontrada.
Nunca fui uma estudiosa da obra de Paulo Freire (1921-1997), tampouco tive a oportunidade de atuar na alfabetização de adultos, justamente pelo fato do meu trabalho sempre ter sido dedicado às crianças dos anos iniciais. Sendo assim, reduzi-me à condição de leitora menor de uma parte da sua obra. Felizmente fui além daquela mera consumidora de algumas frases soltas ou de citações feitas por outros autores. Sim, debrucei-me sobre a essência do seu pensamento filosófico e pedagógico. Estudei muito pouco, mas o suficiente para enriquecer a minha práxis de educadora comprometida com a formação de crianças cidadãs, sem jamais me contaminar pelas escolhas político-partidárias do próprio Freire ou de quem fez dele, por convicção ou oportunismo, mote para discursos eleitoreiros. Sou adepta da pedagogia que potencializa o outro para ler o mundo, fazer a crítica, concordar e discordar, realizar escolhas, o que difere das tentativas de condicionamento, de adestramento ideológico.
Na data de hoje, se vivo estivesse, Freire faria 100 anos. Pelas redes sociais acompanho centenas de postagens de professores, políticos… também de “entendidos” que celebram o educador, quase sempre como se as suas ideias e seu método estivessem presentes, de maneira hegemônica, em nossas salas de aula, quando isso não acontece nem mesmo na Educação de Jovens e Adultos ou nos programas específicos de alfabetização de adultos e idosos. Também leio algumas postagens de outros, não menos “entendidos”, que atribuem o fracasso da educação brasileira ao legado de Paulo Freire. Calma, permitam-me opinar: “nem tanto ao céu, nem tanto ao mar”!
Importante situar: Paulo Freire iniciou, em 1963, em Angicos, no Rio Grande do Norte, a experiência relevante de implementação do seu método para alfabetizar adultos de forma rápida e com baixo custo. Merece respeito. Alfabetizou 300 adultos em 40 horas de estudos. O seu projeto tornou-se referência e a intenção era expandi-lo para outros municípios do RN e outros estados do país como “projeto-piloto”. Com o Golpe de Estado, em 1964, Paulo Freire foi preso por 70 dias e exilado por 16 anos. A experiência foi extinta antes de ser nacionalizada por meio de um Plano Nacional de Alfabetização. Portanto, não alcançou perenidade nem mesmo onde começou.
Em síntese, o método de Freire preconiza a alfabetização a partir de palavras geradoras e conceitos do cotidiano de cada aluno. Após 40 horas de estudos, o alfabetizando aprende a decodificar palavras que verbalizava no cotidiano e a problematizar sobre o seu lugar no mundo. O método também envolve teste de alfabetização e teste de politização do adulto, preparando-o para se incluir no mundo letrado. Indago: como afirmar que é essa a proposta predominante nas escolas brasileiras, atendendo das crianças aos adultos? Dizem que é o que acontece de norte a sul do país e por isso os pífios resultados de aprendizagem que amargamos. Ora, ora… só mesmo quem pouco sabe de Educação para acreditar nesse tipo de afirmativa. O nosso problema educacional tem raízes na falta de compromisso com a área e no pouco caso com a escola dos filhos dos outros.
Convém esclarecer: nunca foi exatamente o método de alfabetização de Paulo Freire que interessou aos projetos que idealizei, mas os seus pressupostos teóricos que, junto com os referenciais de outros autores, me permitiram construir um jeito de agir e fazer educação comprometidos com o direito de aprender, especialmente dos filhos dos trabalhadores que estão nas escolas públicas. Refiro-me a uma Educação em contexto que permita a vivência na cidadania, desde a infância. Não me apetece discursar sobre Freire, mas praticar uma pedagogia que empodere os estudantes com acesso ao currículo formal de maneira significativa, solidária, autônoma, humanizadora.
Amanhã, segunda-feira, dia 20 de setembro, depois de um ano e meio, a escola onde eu trabalho voltará com as atividades letivas presenciais, embora desejasse essa retomada ainda no início do ano em curso, observando os cuidados sanitários, decorrentes da pandemia da Covid-19. De tempo integral, só será possível voltar em tempo parcial, contando com algumas salas cedidas, na escola vizinha, porque o prédio próprio passa por serviços de reparos, iniciados tardiamente. Coordeno esse projeto de sucesso que ostenta resultados expressivos nas avaliações nacionais. Registre-se: encontrar uma solução para a retomada foi por completa iniciativa nossa. Isso se chama compromisso com o público que atendemos e com a transformação que tão bem defendeu Paulo Freire. É espantoso verificar a apatia do órgão central da Educação na identificação de alternativas para fazer as escolas funcionarem, assim como há escolas que se apoiam em conveniências e deixam de cumprir a função social que a mantém de portas abertas. Sem direito à educação é difícil o oprimido sair dessa condição.
É urgente, portanto, que Paulo Freire ultrapasse os discursos proferidos em seminários, simpósios, congressos e assemelhados porque em nada alteram a Educação. Da mesma forma que atacá-lo por questões ideológicas jamais reverterá os nossos indicadores.
*Professora, Diretora Executiva do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) e Ex-Secretária de Educação do Estado do RN.
ABC e América entram em campo neste domingo (19), a partir das 16h, para o segundo jogo da rodada de mata-mata da série D do Campeonato Brasileiro. Os dois times tiveram um resultado abaixo do esperado na primeira partida e terminaram empatados em seus respectivos jogos.
Agora, eles retornam aos gramados pressionados, precisando de uma vitória para seguirem vivos na competição e lutarem pelo tão sonhado acesso à Série C. Um novo empate, em qualquer um dos jogos, leva a decisão para os pênaltis.
O ABC está em posição um pouco mais confortável, pois joga neste domingo, contra o Retrô de Pernambuco, em casa, no Frasqueirão. Já o alvirrubro, vai a Sergipe para enfrentar o Itabaiana, no Barretão.
O Secretário Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o advogado Paulo Roberto, esteve no Rio Grande do Norte na última sexta-feira (17), quando visitou o município de Portalegre. Na ocasião, ele esteve em comunidades quilombolas do município e, claro, não pôde deixar de se encontrar com Luciano Simplício, jovem quilombola que foi vítima de violência no dia 11 de setembro. Segundo secretário, o encontro é resultado de um pedido que partiu da Ministra Damares Alves.
“Fui acompanhado por representantes da Secretaria de Assistência Social do município de Portalegre, que já providenciou para a vítima, exame da Covid, atendimento médico, vestuário e internação para tratar a dependência química”, destacou o advogado, em registro nas redes sociais.
Paulo Roberto ainda frisou que governo zela pela lei e não compactua ou apoia qualquer tipo de ação criminosa. “Estaremos acompanhando atentos as apurações, até que este caso se torne exemplo de que não iremos tolerar nenhum tipo de violência contra a população negra, ainda que sob a justificativa de operar a ‘justiça’ para além dos limites do devido processo legal e direito ao contraditório e à ampla defesa”, defendeu o secretário.
Disque 100
O Disque 100 é um serviço gratuito para denúncias de violações de direitos humanos. Qualquer pessoa pode utilizar o canal, que funciona 24h por dia, incluindo sábados, domingos e feriados.
A vacinação contra a covid-19 para adolescentes com idade a partir de 16 anos de idade e sem comorbidades em Natal será iniciada nesta segunda-feira (20).
Seguindo recomendação do Ministério da Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde havia decidido suspender a vacinação desse público, mas diante de análises técnicas da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), resolveu iniciar a imunização dos adolescentes com a vacina Pfizer, como já autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Nas redes sociais, o prefeito da capital, Álvaro Dias (PSDB), reforçou a retomada da vacinação para os adolescentes. “Atenção, pessoal! Vamos iniciar segunda-feira a vacinação para todos os jovens com 16+. O imunizante será o da Pfizer, considerando análise técnica da Sociedade Brasileira de Imunizações e da Soc. Bras. de Pediatria. A vacinação ocorre normalmente nos 4 drives e 35 UBSs”, escreveu o prefeito.
Atenção, pessoal! 💉Vamos iniciar segunda-feira a vacinação para todos os jovens com 16+. O imunizante será o da Pfizer, considerando análise técnica da Sociedade Brasileira de Imunizações e da Soc. Bras. de Pediatria. A vacinação ocorre normalmente nos 4 drives e 35 UBSs.
Assim como o político pontuou, o novo público pode procurar, a partir de segunda, os drives do Palácio dos Esportes, Via Direta, Sesi ou Nélio Dias, das 8h às 16h, ou uma das 35 Unidades Básicas de Saúde, das 8h às 15h.
Como parte das comemorações do centenário do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, a empresa Google, uma das maiores empresas do mundo, prestou neste domingo (19) uma homenagem ao educador na página inicial do site
Os usuários do serviço, ao acessarem a página inicial do site, se deparam com uma imagem do educador. Seu rosto e um lápis, em referência a educação, ajudam a recriar o nome “Google”. Ao clicar na imagem, o internauta é redirecionado à página de pesquisa do educador, com as principais notícias e informações sobre ele.
Nas redes sociais, o perfil brasileiro oficial da empresa, no Twitter, destacou o centenário de Paulo Freire. “Considerado um dos pensadores mais importantes na história da pedagogia mundial, Paulo Freire completaria 100 anos hoje. Defensor da educação libertadora, Freire é considerado o patrono da educação brasileira e sua obra é referenciada no mundo todo até hoje”, frisou a empresa Google na postagem.
Considerado um dos pensadores mais importantes na história da pedagogia mundial, Paulo Freire completaria 100 anos hoje.
Defensor da educação libertadora, Freire é considerado o patrono da educação brasileira e sua obra é referenciada no mundo todo até hoje. 📚 pic.twitter.com/32Ieu48riu
Manobra vil, clara intenção de “manutenção do poder pelo poder” e um assassinato à cidadania. É dessa forma que o juiz do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte Herval Sampaio classifica a inclusão da quarentena eleitoral para juízes e membros do Ministério Público (MP) no novo Código Eleitoral, aprovado na Câmara dos Deputados na última quinta-feira (16).
A quarentena determina o desligamento dos cargos, quatro anos antes das eleições, para juízes, membros do MP, policiais federais, rodoviários federais, policiais civis, guardas municipais, militares e policiais militares.
O magistrado expõe sua compreensão de que os parlamentares são livres para criar as leis que considerem pertinentes para regular a sociedade, mas ressalta que percebe, mais uma vez, um interesse dos deputados em facilitar a continuidade deles próprios no poder.
“De certo modo, já estamos acostumados com essa marmota. A marmota do legislador, que, a cada eleição, quer mexer na lei para atender aos seus interesses, inclusive egoísticos. Interesses claros do que chamo de ‘manutenção do poder pelo poder’. Eles mexem nas leis eleitorais para facilitar suas eleições”, disse.
Segundo Sampaio, o primeiro problema identificado no caso é a existência mútua de sete projetos para modificar o Código Eleitoral em meio à pandemia de covid-19 e a inclusão da quarentena sem a devida discussão de todos os temas.
“O código eleitoral sistematiza todas as leis em um documento só, são quase 900 artigos. Imagina [aprovar essas modificações] no meio de uma pandemia, sem discutir – por mais que a deputada tenha se esforçado. É impossível que até mesmo os experts consigam saber a profundidade da mudança de 900 artigos”, declarou.
“Em momento nenhum das discussões, em momento nenhum das audiências públicas, em momento nenhum citou-se esse tema quarentena. Foi uma manobra das mais estapafúrdias, das mais vis que já vi no devido processo legislativo. Eles violentaram o regimento interno da Câmara”, ressaltou o juiz.
Ele pontuou ainda diversos momentos que considerou inadequados no processo de inclusão da nova regra para candidatura de determinadas categorias profissionais. “Fizeram uma emenda aglutinativa com matérias que não têm a ver com o tema da quarentena. Inclusive, fizeram uma manobra chamando vice-líderes que não tinham poder para assinar emenda. E aí botaram de novo em votação o que já tinha sido rejeitado”, declarou. “Inclusive, todos esses que estão participando dessa manobra, você pode fazer uma investigação: têm problemas com o processo, de PT a PSDB”.
De acordo com o magistrado, o objetivo dos parlamentares foi impedir a candidatura do ex-juiz Sérgio Moro, que deixou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública em janeiro de 2019. Com a aprovação definitiva da obrigatoriedade de cumprir quatro anos de afastamento do cargo para poder concorrer a uma eleição, Moro, que tem sido apontado como pré-candidato à Presidência da República, não poderá disputar o pleito de 2022.
“Eles estão querendo atingir a figura de um juiz, que é o Sérgio Fernandes Moro. E aí o que é que eles fazem? Eles estão atingindo toda uma classe. Punem 17 mil cidadãos juízes, 13 mil e poucos membros do MP”, declarou. “Se eles têm dados de alguém que está usando o cargo para se beneficiar do jogo eleitoreiro, que punam em concreto e não façam um norma dessa, inconstitucional”, completou o Dr. Herval.
O juiz afirmou discordar da alegação de parte dos deputados federais de que os juízes tenham influência perante o povo brasileiro. “Os juízes hoje são tidos, por parte da população, como marajás, privilegiados, como pessoas que estão fazendo mal para o país”.
Ele destacou ainda a raridade com que acontece a limitação de direitos políticos. “A restrição de tirar direitos políticos é tão restrita, que o único caso em que se tira direitos políticos pela Constituição é dos presos. Nós estamos sendo tratados como presos”, lamentou.
Outro ponto criticado por Herval Sampaio foi a falta de distinção entre juízes e membros do MP e os demais atingidos pela quarentena eleitoral. “Juízes e membros do MP não podem ter nenhum tipo de atividade político-partidária. Já as outras classes, podem”, afirmou. “Inclusive, os militares, por exemplo, eles vão para a reserva, continuam ganhando os vencimentos deles; e os outros servidores podem ir normal, inclusive têm direito a licença”.
Ao final, o magistrado manifestou a expectativa que de a situação seja resolvida no Senado. “Que os senadores possam resgatar, à luz da cidadania plena, esse apagão. Que tristeza, que exemplo nefasto para o parlamento brasileiro fazer um assassinato desse na cidadania no Dia Internacional da Democracia”, afirmou.
Ele contou que deposita bastante esperança no posicionamento do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, quanto à condução do Projeto de Lei. “Acredito muito na liderança do senador Rodrigo Pacheco, confio no senador Styvenson [Valentim]. Talvez, com todo respeito, se os senadores Jean Paul [Prates] e Zenaide [Maia] não virem da mesma forma [não se opuserem à aprovação da quarentena], é porque têm problemas com a justiça. Problemas muitas vezes ligados à condenação do ex-presidente Lula”, disse.
“Lula foi condenado. Se foi condenado de forma errada, está aí: o Supremo [Tribunal Federal] já fez o que tinha para fazer. Agora, querer atingir toda uma classe como vingança é complicado”, pontuou.
O texto tem como base a entrevista feita com Henrique Eduardo Alves, filho do ex-governador, que relata suas memórias daquela época, quando tinha apenas 15 anos de idade. “Eu tive em Angicos [recentemente] e um detalhe curioso me emocionou: três pessoas me procuraram, uma disse que a mãe e o outro diz que o pai tinham sido alfabetizados pelo método Paulo Freire. Então, foi uma coisa realmente que me emocionou muito”, destacou Henrique em entrevista.
Veja texto na íntegra:
Henrique Alves: memórias do legado de Aluízio em Angicos
Por Paiva Rebouças – Jornal De Fato
O dia estava cheio, desses dias que não sobra tempo para nada, quando uma mensagem soou no WhatsApp. Há quase uma semana esperando retorno, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves respondeu nossa solicitação se desculpando pela demora. Avisou que poderia nos atender às 15h daquele dia. Precisamos reorganizar toda uma agenda para não perder a oportunidade da conversa que consideramos importante para o contexto da história por ser mais um documento da memória do educador Paulo Freire e da história do Rio Grande do Norte.
Aos 73 anos, Henrique ainda tem todo o vigor de uma vida política cheia de acontecimentos. Herdeiro do legado político de seu pai, o ex-governador Aluízio Alves, foi deputado federal por 11 mandatos (1971 – 2015), chegando à presidência da Câmara (2013 a 2015), quando teve a oportunidade de assumir a presidência da República interinamente mais de uma vez. Também foi ministro do Turismo nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer. Nossa conversa foi por telefone, mas justamente naquele dia, 12 de agosto de 2021, Henrique tinha chegado de uma agenda no interior e passado por Angicos e, pela voz, dava para notar certa emoção ao conversar sobre assunto que lhe traz tantas memórias.
Em 63 o senhor já tinha 15 anos. Tem lembranças do que aconteceu em Angicos?
Olha, tenho lembrança e recentemente eu passei o dia em Angicos e foi o episódio certamente mais citado, porque Angicos se tornou um anunciado nacional de muita honra. E quando a gente vê, hoje, as dificuldades ainda em relação à educação brasileira, se lembrar que Aluízio Alves, em 63, já foi buscar Paulo Freire com seu talento, sua genialidade, para fazer alfabetização de adultos de Angicos. A capacidade que Aluízio tinha de enxergar a escola lá adiante e, realmente tinha, eu acho que é um fato que imortalizou a obra dele no Rio Grande do Norte a partir da sua cidade de Angicos. Na época, inclusive, foi a primeira experiência no Brasil de alfabetização de adultos. Para ter uma ideia, só em Angicos foram 300 pessoas alfabetizadas. Eu tive em Angicos e um detalhe curioso me emocionou: três pessoas me procuraram, uma disse que a mãe e o outro diz que o pai tinham sido alfabetizados pelo método Paulo Freire. Então, foi uma coisa realmente que me emocionou muito, relembrar tudo isso que destravou a guerra pela educação e, sobretudo, alfabetizar os adultos e torná-los cidadãos com direito à voz e direito à personalidade.
O sucesso dessa alfabetização teria sido o que motivou os adversários políticos de seu pai a persegui-lo, não só no governo, mas depois da Ditadura?
Eu não quero aqui falar de pessoas que o tratavam assim. É tanto que me lembro aqui e quero aqui recordar, me permita um espaço aí, um parêntese, para mostrar a figura generosa que meu pai era. Acho que talvez tenha sido a sua maior qualidade, essa generosidade. E você sabe que ele e Dinarte Mariz travaram lutas que marcaram gerações, décadas do Rio Grande do Norte, o verde, o vermelho e tal, e eu me lembro muito aqui, acho que é um fato histórico que eu quero te relembrar. Eu estava chegando à Câmara com o meu pai, com Agnelo (Alves) e, ao mesmo tempo, chegava o senador Magalhães Pinto que, mal abriu a porta, viu que a gente estava entrando na Câmara aí disse: “Aluízo, eu tô vindo agora do hospital onde está internado o senador Dinarte Mariz – já naqueles momentos finais da sua vida – e ele disse a mim que queria morrer em paz com Deus e com os homens. Com Deus, Aluízio, isso já está em paz, com os homens só falta você”. Olha que coisa emocionante que eu estou aqui relatando: “Para morrer em paz com os homens só falta você. Então, eu queria lhe pedir vamos lá visitar Dinarte nesse momento que ele tá vivendo”. Meu pai não pensou duas vezes, já se dirigiu ao carro e nós fomos com ele e Magalhães direto pro hospital, onde o senador Mariz estava; Magalhães foi pros corredores, a gente atrás, abriu a porta do quarto, estava Dinarte deitado, no leito do hospital, e aí Magalhães disse: ‘Dinarte, aqui está Aluízio, que faltava’, mais ou menos assim essas palavras. Aí (Aluízio) entrou, Dinarte levantou assim o braço, estendeu a mão, meu pai fez o mesmo, apertaram as mãos e um disse para outro: “Oi, Aluízio”, “Oi, Dinarte”. E foi um gesto incrível que eu nunca mais esqueci, que mostrou ali, neste momento final de um, a generosidade de Aluízio, depois de tudo que passou, tudo que viveu, tudo que sofreu, toda a perseguição, tudo aquilo que falavam pra ele deixava pra trás e pensava sempre na frente, sempre em manter o respeito às pessoas; pessoas erram, acertam, faz parte da vida pública. Essa generosidade de meu pai foi ímpar e nos passou como um caminho, como pegadas a continuar.
Devido a essa ação, que repercutiu internacionalmente, seu pai passa a disputar, em nível de Nordeste, assim como Miguel Arraes, o posto de articulador nacional. Como era a relação dele com o Arraes? O senhor lembra de algum episódio que remete à possibilidade de Aluízio Alves ser candidato à Presidência da República?
Não, não remeto não sei se… mas ele passou a ser um articulador nacional. Para você ter uma ideia, talvez por isso que você citou isso, o relacionamento que ele tinha, digamos com a esquerda, que pensava e pensava coisas boas, taí o exemplo, sem nenhum objetivo eleitoral de tomar o poder, nada disso! Apenas respeitar o pensamento das correntes ideológicas do Brasil, sobretudo no tocante à educação e, talvez, por isso, tenham sido usados pretextos assim pra caçá-lo, pelo perigo que ele representava: o comunismo, a esquerda, Miguel Arraes, em Pernambuco, Aluízio no Rio Grande do Norte, não, nada disso! Meu pai tem essas ideias, ele era um homem que pensava lá adiante! Vou dar aqui exemplos outros: a energia de Paulo Afonso, quando chegou ao Rio Grande do Norte. Coisa extraordinária! As pessoas acendiam a luz e lembravam de Aluízio, que de repente chegava a luz da sua casa, naquela época dos candeeiros, das coisas tão difíceis. Ligou, mais adiante, Telern – Telecomunicações do Rio Grande do Norte – a pessoa pegava o telefone e falava pro mundo. Foi criado o Hotel Reis Magos, quando só tinha o Grande Hotel, lá na Ribeira. De repente, ele abria com essa visão as portas pro turismo. E eu me lembro que a oposição, isso faz parte do jogo político: “ah, é um hotel pros ricos”; nada, ele já via aquilo como uma porta da abertura para o turismo. Foi o melhor hotel do Norte e Nordeste daquela época. E a Cidade da Esperança, outro fato também nesse pacote, digamos assim do bem da Aliança para o Progresso, o primeiro programa de habitação popular do Brasil foi no Rio Grande do Norte, a Cidade da Esperança, daí o seu nome. Você vê quantas coisas inovadoras, criativas dele que foi um talento extraordinário. Desculpe só me alongar um pouquinho, por isso que eu entendo hoje essa força desse homem. É uma força assim, absurda! Ele partiu há quinze anos e é impressionante; em Angicos; eu fui a Mossoró, naquela solenidade da Faculdade Católica. Semana passada a Caicó, Jardim Seridó e é incrível, não tem um lugar que as pessoas não cheguem perto de mim: “ah, seu pai, que saudade de Aluízio!” Quer dizer, todas as pessoas me procuram para relembrar fatos assim que me emocionam muito porque são fatos da história de meu pai como se fosse hoje, contam com uma emoção incrível! Quer dizer, passado todo esse tempo, esse amor, sabe, essa saudade que as pessoas revelam… é um homem extraordinário e Aluízio, acho que o Rio Grande do Norte, hoje, independente de quem foi a oposição e quem era aliado, reconhece a figura dele.
O que teria acontecido com o Rio Grande do Norte se não fosse o Golpe de 1964 e a limitação ao projeto de alfabetização implantado por ele?
Se não fosse o golpe de 64… é o que eu sinto muito hoje na política brasileira, as pessoas não dialogam mais, parece que dialogar deixa as pessoas mal, querem impor sua vontade, seja de um lado, seja de outro. Política não é só a política partidária, política é conversar em casa com seus filhos, é conversar na empresa com os empregados; política é isso, é um ato de conversar, de dialogar, trocar ideias e que vença, se tiver um vencedor, pelo convencimento. Então, o meu pai mostrou isso ao longo dos anos, tanto que em 1965 elegeu o monsenhor Walfredo governador do Estado, outro grande governador e vou dizer mais, talvez o momento mais marcante que eu tive com ele foi quando cassado brutalmente pela Ditadura Militar, em fevereiro de 69, amigos como Gilberto Rodrigues, vereador Antônio Cortez, Zé Martins, pessoa mais próxima aqui de Natal, foram bater no Rio de Janeiro, naquele momento, dizer: “Aluízio, mas isso não pode parar, isso não pode se acabar, coloque seu filho, coloque Henrique pra deputado, um Garibaldi”, e ele naquele receio de que eu viesse a passar daqueles momentos que ele passou, o clima no Brasil era péssimo, falta de liberdade, falta de respeito, falta de dignidade, as pessoas caçadas, torturadas, presas, aquele crime que o Brasil viveu e ele com medo de que eu viesse a viver um momento difícil, mas eu senti e ele não precisou falar, (vi) no olhar dele, que no fundo ele queria que eu quisesse; queria que eu falasse e quando eu percebi isso por um olhar seu – meu pai não era de muito afeto, de muito abraço, ele era seco, como se dizia – mas num olhar ele, como se dissesse: “Meu filho, você quer?”. Aí eu disse: “pai, eu topo, eu acho importante continuar sua luta”. Então ele disse: Então vá, meu filho, pegue uma bandeira verde aí e vá defender o povo do Rio Grande do Norte. Naquele momento em diante eu fui seu seguidor, encontrei a estrada iluminada, aberta pela esperança e procurei fazer o melhor papel e o orgulho que eu tinha quando eu chegava à cidade e ia para um comício: “É o filho de Aluízio”. Na Câmara, quantas vezes diziam: “É o filho de Aluízio”. As pessoas achavam que isso me trazia alguns desagrados, não, isso me orgulhava muito. Ser conhecido como filho de Aluízio. E aí eu fui trilhando, trilhando, cheguei a líder da Câmara, cheguei a presidir a Câmara, cheguei a ministro de estado, mas sempre, sempre com a inspiração dele e hoje, acredito com as bençãos dele, pra continuarmos porque tem muito Rio Grande do Norte pela frente.
A governadora anunciou na manhã deste domingo (19) a publicação de um artigo, com sua assinatura, sobre o centenário do pedagogo, e patrono da educação brasileira, Paulo Freire. No texto ela relembra a trajetória do educador, que está diretamente ligada ao Rio Grande do Norte, mais precisamente à cidade de Angicos – local onde Freire aplicou, de forma pioneira, seu método de alfabetização para adultos, que ficou conhecido como “40 horas de Angicos”.
Entretanto, seu texto não agradou a todos. A jornalista Laurita Arruda, esposa de Henrique Alves, questionou a omissão ao nome do seu sogro, Aluízio Alves, governador do estado durante o período da aplicação das 40 horas de Angicos, que ocorreu por volta de 1963.
No Twitter, a jornalista disse que: “O artigo da Gov Fátima Bezerra hoje na TN ‘esquece’ de mencionar o Governador Aluízio Alves que realizou as 40 horas de Angicos de Paulo Freire – a primeira no país [sic]”.
“Que no futuro ninguém faça o mesmo com seu legado de ex-governadora.. Se o tiver, claro”, pontuou ainda a Laurita.
O artigo da Gov Fátima Bezerra hoje na TN “esquece” de mencionar o Governador Aluízio Alves que realizou as 40 horas de Angicos de Paulo Freire – a primeira no país. Que no futuro ninguém faça o mesmo com seu legado de ex-governadora.. Se o tiver, claro. pic.twitter.com/k5e3oMviWx
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), usou de suas palavras para expressar, de forma mais clara e extensa, seus sentimentos em relação ao centenário do pedagogo, e patrono da educação no país, Paulo Freire. O artigo, com sua assinatura, foi publicado na Tribuna do Norte.
Nas redes sociais a governadora também fez, de forma mais singela, uma homenagem ao educador, ao anunciar o artigo. “Hoje é um dia muito especial para todos que acreditam no poder transformador da educação. No dia de seu centenário, sabemos que Paulo Freire Vive! Sigamos esperançando!”, declarou a governadora.
Veja o artigo na íntegra:
100 ANOS DE PAULO FREIRE
Na condição de professora e de única governadora eleita em todo o Brasil, no primeiro ano de minha gestão, em 2019, fui a Angicos para lançar um desafio, o de tornar o Rio Grande do Norte Território Livre do Analfabetismo. Aquela ação – que já fazia parte das comemorações do Centenário de Paulo Freire – será ampliada para todo o Estado por meio do Programa Nova Escola Potiguar (o PNEP), um dos maiores Programas já pensados no meu estado que se traduzirá em um novo momento da educação estadual no Rio Grande do Norte.
Naquela ocasião eu disse, e repito aqui, que uma das lições deixadas por Paulo Freire era de que lutássemos pelos nossos sonhos, para que eles se tornassem realidade. Estamos aqui, hoje, comemorando o Centenário de Paulo Freire, porque sabemos do poder que a educação tem de transformar vidas!
Quando, em 1963, portanto, 58 anos atrás, Paulo Freire promoveu o projeto-piloto “40 Horas de Angicos”, inúmeras pessoas – a maioria adultas – tiveram a chance de aprender a ler e a escrever. Angicos, uma pequena cidade no coração do meu Rio Grande do Norte, foi a primeira selecionada para desenvolver ali a pedagogia freireana e se tornou, naquela ocasião, símbolo da luta do enfrentamento ao analfabetismo no nosso País.
Aquela ação contra o analfabetismo nos faz pioneiros na práxis freiriana. E isso nos enche de orgulho! Claro que ainda é lamentável que tantos anos depois, o Brasil não tenha conseguido cumprir a meta de ter 93,5% dos brasileiros acima de 15 anos alfabetizados até 2015. Infelizmente, o quadro de analfabetismo funcional no Brasil aumentou, quando deveria regredir.
Mas o verbo “esperançar” de Paulo Freire nunca esteve tão vivo em nossa memória. Continuamos sonhando e agindo! E no terceiro ano de Governo, após enfrentarmos inúmeros obstáculos de um estado que herdamos colapsado, iremos implementar um programa voltado para a construção de escolas, reformas, ampliações; modernização tecnológica; capacitação e formação do magistério; e ações de superação do analfabetismo.
O Nova Escola Potiguar prevê também a criação do Instituto Estadual de Educação Profissional, Tecnologia e Inovação do Rio Grande do Norte, o IERN; serão unidades que ofertarão cursos adequados à realidade sociocultural local e à matriz econômica em potencial da região. Queremos construir os IERNs em todas as regiões do RN. Com previsão inicial de 12 campis, terão a infraestrutura baseada nos modelos consagrados dos Institutos Federais, sendo construídos e mantidos pelo Governo do RN. Essa ação revolucionária na educação do RN só será possível porque temos gestão, foco, compromisso, mas também porque temos inspirações como as que nos deixou Paulo Freire.
Em 2019, já no início da nossa gestão, começamos os preparativos para o centenário de Paulo Freire. Instituímos o ano freiriano e, de lá para cá, foram inúmeros atos, seminário, círculos de Diálogos. Agora em setembro, a Secretaria de Educação realizou jornadas formativas de três dias. Hoje, iremos inaugurar, em Angicos, a estátua que homenageará esse grande educador.
Olha, já se passaram mais de 40 anos desde que me formei em pedagogia em 1980 na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Eu tenho um imenso orgulho de, desde então – e enquanto professora, sindicalista, parlamentar e, agora, governadora – , dedicar minha vida à luta em defesa da educação pública, de qualidade, a uma educação para todos e todas. Paulo Freire é minha grande referência e minha eterna inspiração na defesa da educação como passaporte principal na luta pela cidadania.
Nele, temos o exemplo para seguirmos acreditando, planejando e executando nossas ações para a política pública educacional.
Que jamais nos esqueçamos de suas palavras, de seus ensinamentos e seus gestos. Que daqui a 100 anos, nossos educadores, estudantes e sociedade em geral possam continuar sentindo a importância do trabalho deixado por Paulo Freire. E como dizia ele: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Parabéns a todos nós educadores e educadoras. Viva Paulo Freire!
*Artigo de Fátima Bezerra, governadora do RN, publicado na Tribuna do Norte