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BOLSONARO DEFENDERIA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO EM 1964?

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DEPUTADO DANIEL SILVEIRA, BOLSONARO, E O DEPUTADO CORONEL TADEU. FOTO: FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL

O presidente Jair Messias Bolsonaro presidiu um ato simbólico ao que chamou de defesa da liberdade de expressão e da democracia. O gesto seria merecedor de todos os aplausos, não fosse o ato um símbolo do desprezo pela democracia, ao atingir um dos pilares do Estado Democrático de Direito, o Judiciário, representado pela mais Alta Corte do País.

Bolsonaro fez um ato para exaltar a liberdade de expressão simbolizada pelo deputado Daniel Silveira, justamente condenado pelo Supremo Tribunal Federal por praticar crimes contra as instituições e atentar contra a democracia. Um paradoxo inquestionável. O oxigênio da democracia é a liberdade.

Afinal, Daniel Silveira não foi condenado somente por expressar o que pensa. Ele foi condenado por atentar contra o STF, uma das instituições que sustentam a democracia. É bom não confundir liberdade de expressão com prática de crimes que tenham como instrumento para o cometimento destes crimes, justamente a liberdade de expressão. É preciso lucidez para não confundir e misturar as duas coisas.

No mesmo ato, o deputado pelo RN, General Girão, fez um longo discurso em defesa da liberdade, reclamou do cerceamento de liberdade e cravou: “Nossa liberdade de expressão vem sendo ameaçada por atos antidemocráticos vindos do Supremo”.

Foi justamente isso que Girão falou. O Supremo é que está promovendo atos antidemocráticos e ameaçando a liberdade de expressão.

Não deixa de ser gratificante ver personagens que exaltam os tempos de chumbo da Ditadura, que têm como ídolos torturadores da ditadura, fazendo ‘comício’ em defesa da liberdade de expressão. Adjetivos enfileiram-se para estabelecer o que representa esse curioso e inédito cenário.

Afinal, durante a Ditadura Militar, exaltada por Girão e pelo presidente Bolsonaro, um simples gesto significava prisão, tortura ou morte; a letra de uma música era suficiente para que o compositor fosse preso e torturado; a mordaça sufocava a liberdade de expressão de forma física ou simbólica; até o pensamento era interpretado como ameaçador pelos ídolos dos que hoje ‘defendem’ a liberdade de expressão. O cheiro da morte era a essência preferida pelos que Bolsonaro e Girão idolatram.

Fico imaginando familiares de pessoas que foram torturadas e até mortas por simplesmente pensar diferente, o que sentem quando veem um Capitão que idolatra o torturador Brilhante Ustra, levantar a voz ‘em defesa da liberdade de expressão’, contra uma instituição como o Supremo Tribunal Federal? Quem prefere armas à livros não combina com defesa da democracia.

Se Bolsonaro e Girão estivessem em 1964 com esse mesmo discurso, com farda ou sem farda, teriam sido considerados ‘subversivos’, torturados para que entregassem os seus ‘comparsas’; depois seriam ‘suicidados’ e até seus corpos teriam fim desconhecidos.

Ainda bem que eles acertaram o ano para lutar pela liberdade de expressão.

Outros tiveram que morrer ao lutar por liberdade de expressão e de pensamento, para que Girão e Bolsonaro pudessem usar o Palácio Presidencial para bradar por ‘liberdade’ de um condenado por atentar contra a instituição que tem a prerrogativa legal de preservar a liberdade de todos, não somente dos que pensam como nós.

Bolsonaro, Girão, estamos juntos. Liberdade realmente é inegociável. 

E Viva a Democracia!


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