DIA DE SÃO JOSÉ: DEVOÇÃO E ESPERANÇA PARA OS PEQUENOS AGRICULTORES DO RN

Nesta quarta-feira (19) é comemorado o Dia de São José, padroeiro dos agricultores. Segundo a crença popular, a ocorrência de chuva nessa data é sinal de um bom inverno, com garantia de colheita farta. Por isso, o dia é aguardado e comemorado sobretudo pelos pequenos agricultores e aqueles que vivem do comércio da produção da agricultura familiar, atividade que garante o sustento de milhares de pessoas no Rio Grande do Norte.
É o caso de Luzia Maria da Silva, que é permissionária do Mercado da Agricultura Familiar, na Zona Sul de Natal, há oito anos. Os produtos vendidos por ela são cultivados ou preparados pelo próprio núcleo familiar e por mais de dez outras famílias de diversas cidades potiguares.
Para a comerciante, que é católica e acredita na tradição do Dia de São José, a expectativa é elevada para a data e para o inverno. “Tomara que chova [neste dia dezenove]. Tenho a expectativa de que este ano seja melhor. Cada vez a gente quer um ano melhor. É isso que a gente espera, o agricultor”, contou.
Mas, para Dona Luzia, não há tempo ruim. Em seus oito anos no mercado, tem clientes cativos, que procuram especificamente as produções de sua família e de seus fornecedores, sobretudo a macaxeira. “A minha experiência no Mercado é muito boa. Gosto demais de trabalhar no Mercado porque é uma feira boa, de pessoas boas. O cliente daqui é maravilhoso. O nosso cliente é certo.
Sempre aparece um novato, não é? Mas tem os fiéis, os antigos, de quando a gente começou aqui”, disse.
A agricultura também é a base do sustento da família de Eliene Francisca da Silva. A colheita, que antes servia exclusivamente para consumo próprio, agora garante uma renda. Para a permissionária, o inverno deste ano deve ser bom para o plantio e deve garantir boas vendas do seu carro-chefe, que é o feijão verde. “Acho que a expectativa para este ano está sendo boa. Vai ter muito feijão verde, com certeza”.
VENDA DIRETA
O Mercado da Agricultura Familiar, administrado pela União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), é um espaço para venda direta do agricultor familiar para o consumidor final. Atualmente, quarenta permissionários expõem e vendem seus produtos no local, que contempla não apenas os produtos in natura, como frutas e verduras, mas também os beneficiados, como geleias, doces, sopas, mel, castanhas, chips e queijos.
“Sempre foi nosso objetivo fornecer uma venda direta de quem produz para quem consome. E aí, a partir disso, a gente gera segurança alimentar para quem está consumindo. Além disso, há uma diversidade muito grande de produtos, e isso mostra o tamanho da nossa agricultura familiar”, afirmou a coordenadora do Mercado, Suerda Soares.
Economia da agricultura familiar
Segundo a gestora, as vendas do Mercado beneficiam diretamente seiscentas famílias de agricultores. Contabilizando os impactados de forma indireta, são aproximadamente mil. “Cada agricultor desse tem suas parcerias também com seus vizinhos; então, aquele que não consegue vir pra cá, consegue mandar seu produto por ele. As lojas, principalmente, são espaços de muita parceria. Cada espaço desse tem, pelo menos, dez a quinze produtores envolvidos de forma direta, fora os indiretos”, explicou.
Ao todo, esses comerciantes movimentam mensalmente cerca de trezentos mil reais com vendas diretas. “Só que nosso espaço também é um centro de distribuição, então a gente faz entrega hoje para hospital, para escola”, afirmou Suerda. Somando o fornecimento de alimentos para essas instituições, a estimativa é de que o valor chegue a meio milhão de reais por mês em circulação de mercadorias.
Essa atividade como centro de distribuição, atende, por exemplo, órgãos estaduais e hospitais de Natal. Segundo a coordenadora, esse fornecimento é garantido por uma lei do RN que faz com que toda compra dos hospitais e órgãos públicos do Estado tenha pelo menos 30% de participação da agricultura familiar. Esses contratos com a gestão pública não são benéficos apenas para os pequenos agricultores, mas comemorados também pelas entidades que recebem os produtos, de acordo com Suerda.
“Você tem hoje tem um paciente do Walfredo Gurgel consumindo a polpa de fruta lá de Mossoró, tem um paciente do Giselda Trigueiro consumindo uma goma de tapioca. Então, a gente permitiu com que essas pessoas consumissem produto de qualidade e produtos que nunca chegaram nesses locais. Tem nutricionista hoje dizendo que a grande revolução é um paciente comer arroz vermelho – que vem de Apodi –, feijão macassar; coisas que eram impensáveis na dieta desses pacientes”, explicou.


