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A RESTAURAÇÃO DO TEATRO ALBERTO MARANHÃO

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Publicado originalmente no dia 11 de junho de 2021 no Blog Elza Bezerra

Ontem os céus da Ribeira ganharam novas cores. Sem me importar com o ditado de que “a curiosidade matou o gato”, fui ver do que se tratava. Para minha surpresa e de toda a população de Natal, testavam a iluminação do Teatro Alberto Maranhão – TAM.

Teatro Alberto Maranhão

Hoje fui xeretar mais um pouco. Os tapumes voltaram ao local, mas nada que uma boa conversa e o entusiasmo de uma “historiadora” conseguisse superar para conferir, in loco, o que toda Natal aguarda com muita ansiedade. Resolvi dar um spoiler – seria muito egoísmo não compartilhar essa redescoberta.

Pátio interno do Teatro Alberto Maranhão

A praça Augusto Severo está quase pronta. Para quem não sabe, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi político e inventor aeronáutico. Projetou o dirigível Pax, que decolou em Paris, no dia 12 de maio de 1902, tendo a bordo o mecânico francês Georges Saché e o seu inventor. O dirigível elevou-se rapidamente, atingindo cerca de 400m. Dez minutos após o início do voo, explodiu violentamente, projetando os dois tripulantes para o solo. Severo e Saché morreram na queda. 

A chegada da República trouxe uma mudança não só política e econômica, mas também de estruturação urbana da cidade de Natal. No final do século XIX, importantes projetos de reformas e melhoramentos dos espaços públicos situados no centro da cidade visaram modernizar a capital do Estado.

Aproveitando a onda de modernidade, deu-se início à construção do Teatro em 1898, no governo de Joaquim Ferreira Chaves, sendo inaugurado em 24 de março de 1904, no governo de Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão (irmão de Augusto Severo), originalmente denominado Teatro Carlos Gomes.

Posteriormente rebatizado de Alberto Maranhão, logo o Teatro estará recebendo os convidados para sua reabertura. No largo da frente, voltei no tempo dos vendedores de balas, chicletes e pastilhas “Garoto” abordando a garotada que vinha assistir às matinés em dia de domingo. As janelinhas de ferro da bilheteria, Coquinho e Seu Pedro zelando desde a entrada.

Chapeuzinho Vermelho, Os Três Porquinhos, Cinderela, João e Maria e outros contos de fadas eram encenados na forma original por Jesiel Figueiredo. Ninguém ficou traumatizado pelo lobo mau, bruxa, feiticeira ou rainha má.

Minha geração cresceu frequentando o TAM; meus filhos, idem. Minha mãe, Selma Meira e Sá Bezerra, foi diretora do teatro de 1991 e 1994. Artista plástica e com bom trânsito nas artes, fez o TAM acontecer, mixando apresentações de artistas locais e nacionais.

Durante a sua gestão, passaram pelo palco grandes nomes do teatro, do balé e da música nacional. Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Bibi Ferreira, Ana Botafogo, Edson Celulari, Gilberto Gil e tantos outros artistas que engrandeceram a atividade cultural de Natal.

Um espetáculo memorável foi a apresentação de Bibi Ferreira, Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte e Coral Canto do Povo, sob a regência, aqui em Natal, de Osvaldo D’Amore, reunindo mais de cem pessoas em cena.

O Teatro Alberto Maranhão já foi palco de óperas, concertos, peças, recitais e abrigou diversos projetos culturais importantes. Quem nunca assistiu aos cantores locais que abriam o projeto “Seis e Meia”, antes das atrações nacionais? Uma idealização de William Collier, bem movimentado por Zé Dias.

Atravessei o pórtico principal do prédio em reformas com o coração batendo forte. Uma expectativa para ver o trabalho de restauro. Logo no Foyer, o ladrilho belga original cuidadosamente recuperado, o gradil de ferro fundido na França imune à ação do tempo; olhos centrados nos detalhes.

O lustre do salão nobre limpo e brilhante, o piano Steinway & Sons em silêncio, as janelas que desvendam o pátio interno aguardando o burburinho dos espectadores antes de ingressarem na sala de espetáculo. Os corredores, as frisas, os camarotes e a galeria no alto. Tudo cuidadosamente restaurado: piso, roda-teto, poltronas, iluminação central, grande palco, cortinas.

A construtora responsável está de parabéns, fez um trabalho minucioso e cuidadoso de recuperação desse importante patrimônio histórico-cultural de nosso Estado.

As cortinas estão quase prontas para serem descerradas, falta apenas a caixa cênica para ouvirmos novamente: “Hoje tem espetáculo”! Quando a pandemia passar, que venham espetáculos de música, dança, concertos, recitais, peças, balé…

Governos federal, estadual e municipal, sem dispensar a iniciativa privada, reunidos em mutirão de esforços para revitalizar o uso do espaço público no grande corredor cultural de Natal. O século XXI fazendo renascer uma importante área de nossa cidade.

Publicado originalmente no dia 11 de junho de 2021 no Blog Elza Bezerra


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