A polarização de 2022 não será a mesma de 2018 e o chefão petista sabe disso. Por trás das bandeiras vermelhas, há muita articulação
Por Mario Sabino
As bandeiras vermelhas das manifestações de esquerda no sábado passado podem ter feito Jair Bolsonaro sorrir, mas é preciso entender que a polarização de 2022 não será a mesma de 2018. Se na última eleição presidencial boa parte dos eleitores de Jair Bolsonaro tapou o nariz e votou nele, para evitar a volta do PT ao poder, na próxima esses mesmos eleitores devem tapar o nariz e votar em Lula, para impedir que Jair Bolsonaro permaneça no Palácio do Planalto. Ou dividir-se votando massivamente em branco ou nulo, o que deverá ajudar o petista. Há ainda um primeiro turno no meio do caminho do atual presidente, e ele pode até mesmo não passar ao segundo tempo no qual Lula já está garantido, visto que muita gente que votou em Jair Bolsonaro em 2018 poderá votar num terceiro nome que não significará necessariamente uma terceira via.
Não serão petistas ou bolsonaristas que definirão o resultado no ano que vem. Será o eleitorado que, na falta de um candidato com ar de novidade que se mostre viável até o início do ano que vem, acostumou-se a oscilar entre o que fede mais e o que fede menos. E Jair Bolsonaro fede muito mais, porque fede a mortes, enquanto o cheiro da corrupção e lavagem de dinheiro de Lula está se tornando cada vez mais rarefeito. Trata-se de constatação.
O chefão petista é muito mais esperto do que o oponente. Por trás das bandeiras vermelhas, há articulação intensa com políticos de todos os matizes e grandes empresários — entre eles, os mesmos que tentam segurar Paulo Guedes, elogiando algumas ações suas em público, não para agradar a Jair Bolsonaro, mas por entender que, sem o ex-super ministro da Economia na Esplanada, a situação poderia degringolar de vez. É preciso entregar um país não completamente arruinado ao ex-condenado. A divulgação do encontro dele com Fernando Henrique Cardoso é só a ponta do iceberg.
Enquanto Jair Bolsonaro aposta no antilulismo, com discurso extremado como se a polarização fosse a mesma de 2018, Lula aposta no antibolsonarismo, com discurso afável a ouvidos sensíveis (sem perder a ternurinha), menos ideologizado, de “união nacional”, porque sabe que a polarização em 2022 será outra, a do extremismo versus “polo democrático”, e que o seu cheiro de ralo já não incomodará tanto, visto que o cheiro de morte do oponente já é bem mais acentuado. De qualquer forma, Jair Bolsonaro não saberia e não poderia fazer diferente: é um sujeito de inteligência limitada e enveredou pelo caminho sem volta da sociopatia. O atual presidente não é o real adversário de Lula, apesar da retórica do chefão petista. O real adversário de Lula é um nome forte que represente uma alternativa honesta e racional a ele. Mas esse nome ainda não existe e não se sabe se existirá a tempo.
*Informações de O Antagonista.