A governadora Fátima Bezerra perdeu uma grande oportunidade de usar o precioso silêncio como defesa. Tão logo soube que o deputado Ezequiel Ferreira havia acolhido parecer jurídico para implantar a CPI da Covid, a governadora emitiu uma nota em que aponta, com satisfação, que a CPI só poderá investigar dois contratos de sua gestão na Pandemia.
Além de apontar os dois contratos, o Governo já se adianta na defesa e expõe os argumentos que passam a ser vistos também pela oposição. Estrategicamente, jogada de puro amadorismo político. Mostrou a defesa antes mesmo de ser atacado.
Outro ponto é o Governo praticamente ‘comemorar’ que a investigação vai se restringir a apenas dois contratos. É quase como se dissesse: “Graças a Deus vocês vão investigar só esses dois contratos.” O inconsciente pensa: “Porque os outros…”
Fátima Bezerra não precisa disso. Tem uma história bonita, sua gestão não tem escândalos, ela é simples, tem as mãos limpas e não se envolve em falcatruas.
Mas deixa escapar que teme algum deslize em sua gestão. É possível que haja algo que não tenha sido feito de forma 100% correta? Sim. É perfeitamente possível.
Afinal, um gestor não vê tudo, não sabe de tudo. Não é onipresente ou onisciente. É possível que haja algo que tenha passado sem o rigor necessário.
Caso haja algum contrato que possa ter falhas, vícios ou indícios de desvio ou corrupção, Fátima precisa ser a primeira a tomar a frente, admitir o erro e punir quem eventualmente tenha sido o responsável pelo delito.
É como a gente diz no interior: “Quem for podre, que se tore.”
No reino animal, a presa, ou vítima, exala um odor que expressa medo; esse odor é sentido pelo caçador, que avança com força para cima da vítima, pois identificou sua fraqueza originada de um odor característico. A natureza é sábia.
Foi assim que o Governo se comportou com essa nota bisonha, inconsistente e medrosa. Exalou medo por todos os poros. Se a nota fosse uma pessoa, estaria suando em bicas e tremendo. E a oposição sentiu o cheiro da fraqueza. E vai pra cima com força.
Primeiro foi a deputada Isolda, colhendo assinaturas para barrar a CPI, numa clara demonstração de temor. Apontou erros formais, que foram corrigidos e ganhou legalidade. A ação foi desastrosa no conjunto e no desfecho.
Para sair das cordas e não exalar mais o cheiro do medo, o Governo precisa dizer que nada teme e partir pra cima da CPI com todos os detalhes dos 12 contratos que os parlamentares querem investigar. Nada de esconder. Tem que mostrar tudo.
Dessa forma, reconquista o território e passa a exalar o cheiro da vitória. Do contrário, poderá ser contaminado com o fedor da derrota.
O Governo está entrando muito mal na CPI. Mas, poderá sair com a consolidação da reeleição de Fátima. Depende mais dela do que da oposição.