O senador Styvenson Valentim (Podemos) classifica como “repugnante” o planejamento de golpe de Estado no Brasil por Bolsonaro e por militares da linha de frente do governo do ex-presidente.
O parlamentar não se manifestou nas redes sociais, mas em conversa com o Diário do RN, o senador se posiciona totalmente contra os fatos que vêm sendo expostos a partir de investigação da Polícia Federal. Ele afirma que não há como defender: “se tivesse acontecido, a gente não estaria conversando não”, disse.
“Em resumo, uma patuscada repugnante. É de uma repugnância você ler, você ouvir, você abrir um jornal e ver general, gente que teve uma formação, que passou pelas frentes militares para defender o nosso país, o nosso povo, vem fazer uma palhaçada dessa, não acreditar na democracia. A democracia é só para quem? Só quando ganha? Quando perde não é democracia não? Aí é golpe?”, questiona o senador.
As comprovações de atuação de Bolsonaro na articulação do golpe, conforme relatório da PF divulgado nesta terça-feira (26), aumentam, segundo Styvenson, as suspeitas. “Até agora ninguém negou o fato, ninguém negou o que aconteceu, ninguém negou as mensagens, ninguém negou que planejaram, ninguém negou que pensou, ninguém disse que é mentira, porque a quantidade de provas obtidas é tão robusta que eles estão discutindo já outra estratégia. De dizer que foi um pensamento. Que espécie de pensamento é esse, obcecado, obsessão de pensar todos os dias em destituir um governo, matar pessoas?”, levanta o parlamentar.
Styvenson complementa que não há que se descredibilizar o trabalho da Polícia Federal: “Se você não acreditar no relatório da Polícia Federal, você vai acreditar em quê? Sinceramente eu não sei, porque até ontem a Polícia Federal era uma instituição altamente reconhecida. Quando fez a Lava Jato era a polícia mais reconhecida. No governo Bolsonaro era a polícia mais reconhecida. Agora perdeu a credibilidade? É igual é igual a história das urnas. As urnas só estão falsificadas quando perco, quando eu ganho ela está boa, é? Não faz sentido”.
Apesar de ponderar e opinar que “a instituição [Forças Armadas] não são aqueles generais, os coronéis, não são essas pessoas não”, Styvenson coloca que as bancadas bolsonaristas nas casas legislativas não se manifestam porque “foram eleitos por Bolsonaro. É claro que não vão se manifestar”, diz ele. No entanto, se afasta do grupo: “Eu não tenho nada a ver com bolsonarismo, eu não tenho nada a ver com essas ideias aí de ficar tramando contra a democracia, contra o povo, que conversa é essa de tomar o poder assim? Não!”.
“Eu acho que não há como defender com a coisa que está tão explícita. Ainda bem que não houve, porque senão eu não estava conversando com você não. Senão, a gente não estaria falando desse assunto não, estaria todo mundo na masmorra. E eu, por não ser bolsonarista, poderia estar também. Não é só de esquerda não. É quem fosse contra a qualquer ideia deles”, alerta o senador.
O parlamentar critica, ainda, a tentativa de amenizar os fatos que vêm sendo divulgados.
Tentativa essa realizada pela base de Bolsonaro.
“A interpretação que se dá, aí é que está o problema, todo mundo quer atenuar. Pensar não é crime? Você está tratando de militares. Eu não sei se a máfia italiana tramava desse jeito para acabar com as autoridades, com os juízes, com as pessoas que eles tinham algum desafeto. Olha o nível. Isso é coisa de máfia”, afirma.
Operação Contragolpe
A Operação Contragolpe, deflagrada na última semana pela Polícia Federal (PF), é um desdobramento da Operação Tempus Veritatis, deflagrada no dia 8 de fevereiro de 2024, para investigar organização criminosa que teria atuado na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem política com a manutenção do então presidente da República, Jair Bolsonaro, no poder.
Os planos incluíam o assassinato do presidente eleito Lula (PT), do vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em operação da última terça-feira (19), a Polícia prendeu quatro militares e um policial federal e indiciou 37 pessoas.
Nesta terça-feira (26), novos dados do relatório divulgados pela PF apontam a participação direta do ex-presidente no plano. A polícia concluiu que Bolsonaro planejou e atuou na articulação do golpe.
Diferente de Rogério Marinho, Styvenson afirma que não pode colocar “embaixo do pano” o planejamento do golpe
Aliado de primeira hora e parceiro de Rogério Marinho (PL) nas eleições de 2024 no RN, Styvenson Valentim diz respeitar o posicionamento do colega de bancada, mas afirma que não tem como “esconder as coisas que todo mundo está vendo”.
“O Rogério defender, eu não tiro o mérito dele de advogar para Bolsonaro, porque ele é do partido de Bolsonaro, foi eleito por Bolsonaro, foi Ministro. Então, ele está dentro da razão dele. Eu não.
Como eu não tenho esse vínculo partidário, esse vínculo até mesmo de amigo [com Bolsonaro], alguma coisa do gênero, eu não tenho como ficar escondendo as coisas que todo mundo está vendo, eu não tenho como botar debaixo do pano algo que está saindo aí todo dia”, ressalta o senador Styvenson.
Rogério Marinho é secretário nacional do PL de Bolsonaro, presidente do partido no RN e foi Ministro do Desenvolvimento Regional durante o governo anterior. Em suas redes sociais, Rogério coloca os fatos divulgados pela Polícia Federal como “narrativas forçadas e perseguições” por parte da Justiça e “tentativas de silenciar a direita conservadora e, consequentemente, grande parte do povo brasileiro”. O senador do PL é um dos que tentam amenizar as tratativas para o golpe de Estado como um planejamento de parte de um grupo de militares.
Styvenson, que se classifica como anti-PT, mas não como bolsonarista, ressalta que questiona inclusive ministros do STF, por exemplo, mas “da forma legal, a forma democrática, a forma constitucional de reequilibrar os poderes, de tirar o tirano lá do STF”, se referindo a um processo de impeachment.
No entanto, sobre o planejamento de golpe, reitera: “Olha eu não acho exagero [a repercussão], porque não foi totalmente elucidado. Eu posso falar dos fatos que eu estou vendo até aqui. E os fatos que eu vi até aqui são militares fardados dentro de unidades, ou dentro do Palácio do Planalto tramando contra a democracia”.