Após ser abandonado há quatro dias por seu time, o Shakhtar Donetsk, o atleta brasileiro de futsal Jonatan Bruno Santiago conseguiu escapar nessa terça-feira, 1º, de Kiev, capital da Ucrânia.
Santiago revelou estar abrigado em Ternopil, cidade próxima de Lviv, que serve de porta de acesso à Polônia e Romênia, países vizinhos onde equipes do Ministério das Relações Exteriores recebem os brasileiros que tentam sair da zona de guerra.
A fuga de Jonatan sucede a dos demais membros de seu time, que partiram para a Moldávia, deixando-o para trás junto com outros dois jogadores, um deles também brasileiro. O atleta chegou a tentar fugir pela estação de trem da cidade, mas sem sucesso. “Parecia filme de terror. Um subindo em cima do outro, botando as crianças por cima. A gente oferecendo dinheiro para tentar entrar. A gente conseguiu entrar, mas em seguida, o maquinista nos tirou. Achoq eu alguém ofereceu mais dinheiro que a gente. Foi terrível”, relatou, considerando a tentativa como o momento mais tenso vivido em Kiev.
Jonatan viveu por seis meses em Kyiv, onde registrou em seu perfil do Instagram a situação vivida pela população da capital diante do confronto com a Rússia, que há cinco dias tenta ocupar a cidade. Cortes de energia, alertas de ataque aéreo e barulhos de disparos de longo alcance nas proximidades passaram a fazer parte de sua rotina durante o cerco. “A gente fica ali deitado na cama, dentro do bunker, toda noite esperando se a bomba cai ou não cai na nossa cabeça”, relembra.
Em meio aos confrontos entre russos e ucranianos, Jonatan se abrigou na garagem do prédio onde morava. Ainda no abrigo improvisado com vizinhos, seu prédio correu o risco de desabar por conta da queda de um avião de caça russo, abatido sobre uma rua próxima. No dia seguinte, se juntou aos jogadores do time Shakhtar, no subsolo de um hotel em um bairro mais seguro na cidade.
Fuga em carro da embaixada
Em seu perfil no Instagram, o jogador anunciou pela manhã dessa terça-feira que ele e os demais brasileiros conseguiram três carros para transportá-los para fora do país. Jonatan aceitou a oferta à contragosto. “Tem muitos vídeos pela internet de tiros nos carros. De tempo em tempo, tem que parar em barricadas cheias de soldados que a gente não sabe se são russos, se são ucranianos. (…) Meu medo é eles confundirem a gente, (…) e tá tendo bombardeios, estaremos em campo aberto. (…) É arriscado, mas que opção a gente tem?”, relatou logo antes de partir.
A viagem até Ternopil durou cerca de 14 horas, em um trajeto que ele afirma que seria de sete horas em um período de paz. Seu veículo chegou a apresentar problemas de motor no caminho quando estava em campo aberto, e também precisou parar em uma cidade em estado de alerta. Quando chegou em Ternopil, a cidade passava por corte de luz.
Ternopil não deixa de fazer parte do palco da guerra, que já se estende por maior parte do território ucraniano. Ainda assim, Jonatan afirma estar aliviado de chegar. “Quando a gente consegue sair [de Kiev], é um alívio tão grande, tão grande. Claro que a gente não está seguro dentro da Ucrânia. Tem guerra em todos os lugares aqui, mas é muito medo lá. Kiev é uma tensão muito grande”, declarou.
Em tom de desabafo, Jonatan disse que nunca imaginou vivenciar os momentos que viveu em Kiev. “Não tem como imaginar. (…) Eu me sinto como no meio de um filme, mas com o sentimento de que é real. Ninguém está preparado para isso, psicologicamente a gente fica morto. Eu estou muito cansado”.
Com informações do Congresso em Foco