Deputados e senadores do PT divergem sobre o tom que deve ser adotado pelo partido para reagir às supostas ameaças do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, de que não haverá a realização das eleições em 2022 caso o voto impresso não ande no Congresso Nacional.
Em reunião convocada às pressas, a bancada discutiu de que forma responderia à reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo relatando um “recado” que teria sido dado por Braga Netto, via interlocutor, ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Do encontro, havia a expectativa de que o PT divulgasse uma nota unificada com o posicionamento do partido em relação ao caso. Isso não ocorreu em razão do impasse interno mas também não impediu os parlamentares de se pronunciarem de forma individualizada, como fizeram a presidente nacional, Gleisi Hoffmann, e outros deputados.
Interlocutores da legenda afirmaram que parte minoritária dos parlamentares defende uma “resposta à altura” da gravidade das supostas ameaças. Outra ala, majoritária, no entanto, foi a favor de que o partido adotasse cautela em seu posicionamento público sobre a denúncia. E assim foi feito.
Houve reações, mas individualizadas, não partidárias. Os deputados federais Paulo Teixeira (PT-SP) e Elvino Bohn Gass (PT-RS), líder do partido na Câmara, protocolaram, na sexta-feira (23/7), no Supremo Tribunal Federal (STF), uma notícia-crime contra Braga Netto.
Na avaliação dos mais cautelosos, manifestações acaloradas, neste momento, só ajudariam a tensionar ainda mais a disputa eleitoral do ano que vem. Além disso, contribuiria para desestabilizar a já instável relação entre o partido e os militares, com quem viram as boas relações desandarem a partir da instalação da Comissão da Verdade, no governo Dilma.
Internamente, há o entendimento de que um dos objetivos do PT hoje é demover o apoio dos militares do principal concorrente de Lula em 2022, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Isso, para os interlocutores, só seria dificultado em caso de um posicionamento mais “incendiário”.
Um dos petistas a optar pela cautela foi justamente Lula. Cada vez mais ativo nas redes sociais, o candidato presidencial do partido não comentou as ameaças por entender que rivalizar com o ministro da Defesa não seria positivo para reconquistar o apoio das Forças Armadas, como contou o colunista Igor Gadelha.
Outra conclusão da reunião foi que o apoio a um possível golpe nas eleições de 2022 só encontra respaldo na cúpula militar do Palácio do Planalto e não é algo que chega a contaminar outros generais e comandantes militares.
O PT não acredita no apoio da maioria dos militares a um golpe, e, por isso, busca “não incendiar” a relação entre as partes. Tratar as Forças Armadas como “golpistas”, de forma generalizada, teria somente o efeito de enfraquecer a avaliação do PT junto aos militares, fortalecendo Bolsonaro.
O interlocutor
Além de Lula, outro personagem importante na discussão do encontro foi o senador Jaques Wagner (BA). Ministro da Defesa no governo Dilma, o parlamentar baiano tem centralizado as discussões internas sobre as Forças Armadas.
Jaques Wagner tem bom trânsito com os militares. Uma das avaliações positivas é que ele conseguiu evitar que a instalação da Comissão da Verdade – destinada a investigar violações aos direitos humanos durante a ditadura militar – provocasse uma eventual ruptura entre as Forças Armadas e o Executivo, mesmo com resistência dos militares ao grupo.
A linha majoritária, que defende uma reação mais amena ao episódio de Braga Netto, entende que o endosso de comandantes militares ao impeachment de Dilma e, consequentemente, a ascensão de Michel Temer ao poder, só ocorreu entre os integrantes das forças que eram contrários à instalação da comissão e que, inflados pela direita, apoiaram a saída da petista do poder.
*Informações do Metrópoles.