Okay, okay, okay! É com esse bordão que Afonso Lemos cumprimenta seus ouvintes e telespectadores. No auge dos seus 81 anos, completados nesta quinta-feira, dia 4 de julho, um dos filhos mais ilustres de Macau não descansa. Sim, Afonso de Ligório Lemos, definitivamente, não sabe sossegar. O político, comunicador, pai e avô, segue sua jornada na imprensa potiguar.
Adjetivos não lhe faltam. Desde o início do ano, quem o assiste na TV Litoral — seja pela televisão, internet ou nas redes sociais — ainda encontra um homem lúcido e motivado, eloquente e questionador, firme, opinativo e que ainda tem muito a colaborar.
Nas linhas que se seguem, o Diário do RN conta um pouco da história de um homem modesto, de origem humilde, e que sempre trabalhou por dias melhores para sua terra e o seu povo. Antes, porém, importante relatar o sentimento do próprio Afonso, que encontra na comunicação uma de suas grandes paixões.
“Sempre gostei da mídia, sempre gostei de TV, sempre gostei de rádio, sempre gostei de participar”, disse Afonso. “A TV Litoral foi a minha ida para o astral. Agradeço por tudo isso.
Agradeço a minha família, meus filhos, meus netos, por estarem ao meu lado nas horas mais difíceis. Hoje, com mais de 80 anos, não existe nada mais agradável do que voltar à mídia assim como eu voltei, levando Macau para o Brasil, para o mundo”, acrescentou.
“Deus vai me proteger e vai proteger a todos nós. Eu digo sempre, a planta precisa da água para sobreviver, e eu preciso do amor de Macau para continuar vivendo”, destacou Afonso, já bastante emocionado.
Afonso Lemos
Afonso Lemos nasceu em Macau no dia 4 de julho de 1943. Filho de Jonas Fernandes de Lemos e Albertina Tetéu Lemos, cresceu acompanhando os passos da “Mãe Quinha”, como chamava carinhosamente a avó Francisquinha. Ela, que nunca exerceu um cargo público, era altamente influente na política potiguar, algo quase impensável para uma mulher nos anos 1940 e 1950.
Com ela, Afonso aprendeu e desenvolveu o amor e a profunda dedicação à política como forma de melhorar a vida das pessoas, o que sempre foi sua missão de vida. Além do amor à política, ele conheceu ainda na adolescência aquela que viria a ser sua maior companheira e conselheira de vida pessoal e política, por mais de cinco décadas: Maria Elizabeth Bezerra Lemos, com quem se casou e teve seus três primeiros filhos: Túlio, Jonas Vinícius e Cristiane. Elizabeth faleceu em 2016. Foi vereadora e, enquanto primeira-dama, uma mulher extremamente atuante, ligada às causas sociais e sempre protagonista em todas as campanhas eleitorais de Afonso.
Primeiros passos
Desde pequeno, Afonso sempre foi muito amoroso, curioso, humanitário, persistente, sociável e vocacionado a ajudar às pessoas, especialmente aquelas que mais necessitam de atenção e cuidados. Sua história de vida está diretamente ligada à história política de Macau. Muito jovem ainda, se interessou pela vida pública, tendo no sangue a veia política de seus antepassados Capitão Pedro Tetéu e o Coronel Feliciano Tetéu, intendente do município (equivalente ao prefeito) e sua avó Francisquinha Lemos, que exerceu forte liderança política na cidade.
Conhecida pela influência junto a deputados e governadores, Mãe Quinha era uma mulher forte, decidida, empática e pioneira em sua forma de combater o machismo, sobretudo na política, dominada pelos homens. Com ela, Afonso aprendeu desde seus primeiros anos de vida a buscar formas de ajudar os mais necessitados e, aos 18 anos, quis se candidatar a vereador, mas a legislação da época não permitia (só podia disputar qualquer cargo eletivo quem tivesse acima de 21 anos de idade).
Da infância humilde em Macau, ao lado dos seus sete irmãos (Reinaldo, Antônio, Sebastião, José, Maria Auxiliadora, Maria da Conceição e Célia), ele aprendeu, desde cedinho, a ter reponsabilidade pelas pessoas. Ainda adolescente, perdeu o pai e precisou assumir o sustento de sua família, junto com sua mãe. Diferente dos irmãos, que estudavam fora, ele encerrou sua vida escolar ainda no Ensino Médio, para trabalhar transportando pessoas no jipe que foi de seu pai, Jonas. “Pensei: ‘e agora? Vou trabalhar’. Peguei o jipe e fui para a praça, trabalhar e ganhar dinheiro para sustentar a família, ser arrimo de família. Esse foi o primeiro baque na minha vida, parar de estudar e trabalhar. Mamãe não queria, mas aceitou. Foi nesse período que comecei a mexer com política, minha família sempre foi política e inventei de me candidatar. Na época, os candidatos tinham muito dinheiro, mas eu tinha uma coisa que eles não tinham: O amor à Macau. Daí, comecei”.
Carreira política
Em 1964, Afonso foi nomeado para auxiliar de fiscal do município pelo então prefeito Albino Gonçalves de Melo. Quatro anos depois, se candidatou a vereador e venceu sua primeira eleição como o mais votado do pleito, em 15 de novembro de 1968. Depois, foi eleito novamente vereador nos pleitos de 1970 (mandato tampão) e 1972. A cada eleição, seu número de votos aumentava exponencialmente e durante seus quatro mandatos de vereador, presidiu a Câmara Municipal em duas ocasiões.
Em 15 de novembro de 1976, foi eleito vice-prefeito junto com o prefeito Cledionor Mendonça (Kidinho), mas este renunciou em abril de 1982, para se candidatar a deputado estadual. Com isso, Afonso assumiu, pela primeira vez, a gestão de sua amada Macau, por oito meses.
Até então apoiador de Aluízio Alves, Afonso passou a apoiar José Agripino Maia e conseguiu fazer seu sucessor (na época, não havia reeleição) José Oliveira (Zé Oliveira) prefeito do município. O pleito ficou na história política da cidade como a mais acirrada e disputada, onde seu candidato foi eleito com apenas 63 votos de maioria, cujo resultado só foi conhecido na abertura da última urna, apurada no Lions Clube da cidade.
“Depois de quatro vezes vereador, eu decidi que queria ser prefeito. Mas, antes, fui vice. Eu era o candidato popular, só que apareceu um candidato e meu grupo disse que ele tinha mais gente de poder e dinheiro junto com ele e que eu seria o vice, puxador de votos. E foi o que aconteceu, arrastei muitos votos. Na época, não tinha reeleição, então, consegui eleger meu sucessor, Zé Oliveira. Aí, na seguinte, eu disse ‘agora sou eu’ e deu certo”. Na eleição de 15 de novembro de 1988, foi candidato a prefeito e venceu praticamente sem dinheiro algum, contra as estruturas do governo do Estado, mas com o apoio e o voto do povo de Macau foi eleito com 334 votos de maioria contra Ivan Montenegro. Afonso governou Macau até 31 de dezembro de 1992. Afonso relembra ainda a eleição de seu filho Túlio (eleito em 2016 prefeito de Macau), quase 30 anos após sua emocionante vitória de 1988 e revela que o fato impactou e marcou profundamente sua vida. “Foi um fato que me marcou e emocionou muito, muito. Eu prefeito duas vezes de Macau e meu filho, eleito prefeito também. Túlio foi meu secretário durante o segundo mandato, ainda menino, meu chefe de gabinete. Ele aprendeu muito nesse tempo e sua vitória, em 2016, me trouxe uma alegria enorme”.
A recordação da vitória de 1988 traz emoções. “Fiz a promessa que, na hora que saísse a última urna, de onde eu estivesse, eu saía vestido de São Francisco pelas ruas da cidade e assim aconteceu. Eu sempre eu dizia: ‘Ganhei todas as eleições em Macau porque os adversários só não tinham uma coisa que eu tenho: o amor à Macau’. Ninguém acreditava na minha eleição. Eu enfrentei todo mundo que tinha muito dinheiro, e ganhava por amor. Ainda tentaram tirar minha candidatura, mas não aceitei e venci”.
Após concluir seu mandato de prefeito em 1992, montou a Fundação Afonso Lemos e implantou o grupo de idosos e viabilizou a formação de centenas de jovens em cursos profissionalizantes ofertados pela entidade.
Atento, não se furta de participar de encontros e reuniões com prefeitos, vereadores, deputados e governadores, quando apresenta suas ideias para melhorar a qualidade de vida de seus conterrâneos.
Esse é Afonso Lemos, que completa 81 anos como se tivesse invertido os números e tivesse 18, tamanha é sua vontade de viver intensamente.