O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva exercita com maestria o que as derrotas e vitórias lhe impuseram em forma de maturidade: A habilidade política recheada de diplomacia. Não há espaço para ódio, rancor ou agressividade quando o foco é atrair possíveis aliados.
Neste sábado (12), Lula deu entrevista ao jornal O Globo e desarmou completamente a agressividade do ex-ministro Ciro Gomes, com sinalizações de reaproximação com o PDT.
Entre outras coisas, Lula disse que respeita o direito do PDT lançar Ciro como candidato, mas acrescentou que é possível uma aproximação com seu ex-ministro. “Só o tempo é que vai se encarregar e ver o que vai acontecer. Da nossa parte, é isso que nós queremos”, declarou.
Como estratégia para evitar atritos entre apoiadores dos dois partidos no faroeste virtual, Lula sinaliza ao seu povo baixar as armas: “Não vamos aceitar nenhuma provocação. Não vamos ter nenhuma agressão.”
O petista conclui dando uma pancada com luva de pelica em seu autointitulado adversário atual: “E eu continuo dizendo que, apesar das críticas, eu tenho respeito e admiração pelo Ciro Gomes”, afirmou o petista.
AGRESSIVIDADE DE CIRO
Conhecido por seu temperamento explosivo e agressividade nas palavras proferidas, Ciro Gomes vislumbrava encarnar o anti-bolsonarismo. Com dados, números e análises consistentes, Ciro bate forte no presidente Jair Bolsonaro. Acreditava que poderia ser o nome absorvido pelo centro-esquerda para combater o atual governo.
Quando o STF devolveu os direitos políticos a Lula e este sinalizou com possibilidade de nova candidatura ao Palácio do Planalto, Ciro Gomes redirecionou sua metralhadora e começou a bater em Lula e no PT, esquecendo até que foi ministro do Governo do PT de Lula. Ficou com o papel de atirador contra Bolsonaro e contra Lula para atrair o eleitorado de centro. Conseguiu ‘agitar’ os lulistas contra ele e, até o momento, não há sinais de que tenha sido acolhido pelo centro.
LULINHA PAZ E AMOR
Experiente, amadurecido na alegria da vitória e na dor da prisão, Lula tinha tudo para fazer um discurso também agressivo contra Ciro Gomes. Não agiu conforme o esperado. Lula é imprevisível justamente para se diferenciar dos demais. Quando esperam um chute, ele dá um abraço; quando esperam um tiro, ele dá um beijo. O inverso também é possível, dependendo da conveniência.
O ‘Lulinha paz e amor’ está de volta. Expressão usada para estabelecer uma mudança de comportamento de Lula, que saía da agressividade contra o empresariado e contra os adversários, parece ter ressurgido junto com os direitos políticos regenerados.
Assim é Lula. Faz o discurso da frente ampla contra Bolsonaro, sabendo que essa frente precisa de um nome, de um líder, de alguém que seja o instrumento do combate efetivo contra Bolsonaro.
Lula tenta atrair o máximo possível de líderes de centro e de esquerda para fortalecer a frente, sabendo que, lá na frente, ele será o nome da frente para fazer frente à frente da direita e voltar à frente do Palácio do Planalto.
‘Quando um não quer, dois não brigam’; ‘quem quer pegar galinha, não diz xô’. Expressões populares que materializam o comportamento de Lula diante dos adversários de hoje, possíveis aliados de amanhã. Sem brigar ou espantar, é mais fácil viabilizar aproximação.
Política feita por gente grande é assim, troca o desaforo por um convite. Uma pancada, por um abraço. E desarma o adversário; e adversário desarmado é mais fácil de ser vencido.
Afinal, as armas não podem ser usadas contra possíveis aliados. Serão usadas com força contra o adversário comum: Jair Messias Bolsonaro. Aí a história é outra. É ‘briga de cachorro grande’.
Quem tiver mais armas, mais soldados e mais aliados, será o vencedor.