O QUE É QUE É ISSO, BOLSONARO?

POR BOSCO AFONSO

O gás de cozinha chega a custar em áreas do Rio Grande do Norte até R$ 100,00 o botijão de 13 kg, a gasolina nos postos de combustíveis de Natal já está quase R$ 6,30. O que é que é isso, Bolsonaro? O senhor mudou a direção da Petrobras, o preço do petróleo internacional estabilizou, o dólar aqui no Brasil despencou e está abaixo de R$ 5,00 enquanto que o preço dos combustíveis para o nosso consumo disparou. E sempre me disseram que quando aumenta o preço dos combustíveis aumentam os preços das mercadorias, pois o quilo do arroz beira os R$ 5, enquanto que o feijão já passa dos R$ 10, o quilo. O pobre, quase não consegue comprar.

O que é que é isso, Bolsonaro?

Quando o Brasil optou por eleger um candidato de direita, em 2018, e escolheu o senhor, foi porque estava decepcionado com a esquerda, com a mesma esquerda que tinha feito muitas ações positivas em favor dos mais pobres, mas que depois de implantar um Plano de Governo, passou a querer implantar um Plano de Poder. Decepcionado com o principal partido da esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT) que se envolvera numa série de escândalos de desvios de dinheiro público, de enriquecimento ilícito, de favorecimentos aos apadrinhados que quase comprometiam o futuro da Petrobras para instalar o seu Plano de Poder,  tudo juramentado nas várias esferas do judiciário por uma gama de testemunhas que também terminaram presas e seus depoimentos prenderam figurões da República e nem assim evitou a proliferação da corrupção.  Foi por isso, Presidente, que os brasileiros mudaram. Ou pensaram em mudar.

Os brasileiros mudaram porque acreditaram nas suas propostas, novas propostas; acreditaram na sua seriedade; acreditaram nas mudanças e especialmente na volta do respeito ao dinheiro e às coisas públicas, mas também quiseram e continuam a querer que o país cresça, se desenvolva com melhores condições de vida para cada um de nós. Confesso que não votei no senhor, Presidente, mas depois que foi eleito também depositei minha esperança na transformação do país, mesmo discordando de seus exageros e imprudência nas falas públicas.

Tudo bem que o seu governo está enfrentando essa pandemia desde o início do ano passado e foi exatamente por conta dessa pandemia que o governo de Vossa Excelência passou a ser mais massacrado e degringolou… Até entendo que o senhor foi bem intencionado logo no início da pandemia quando defendia o uso de medicação precoce contra esse maldito Covid-19, mas precipitou-se quando chamou a pandemia de uma “gripezinha” e não satisfeito ficou provocando a todos os que acompanhavam a decisão de médicos renomados sobre as precauções contra a pandemia. Naquela hora, Presidente, o senhor tinha saído “por cima da carne seca” se tivesse controlado a sua impulsividade, aceitado as recomendações da ciência e hoje, certamente, não estariam jogando nas suas costas toda a responsabilidade por quase 515 mil mortes.

Mas ainda resta uma esperança para o senhor se redimir de seu posicionamento inicial quando acreditou que o tratamento precoce deveria ser a solução mais precisa que a exclusiva aplicação de vacinas. É que já há estudos científicos, mesmo embrionários, que recomenda o uso da Ivermectina como solução para o combate preventivo ao Covid-19. Se isso ocorrer, o senhor sairá vitorioso desse quiproquó. Mas isso tem que ser breve. Caso contrário, o senhor vai carregar a culpa total das mais de 500 mil mortes.

Até entendo, Excelência, que a imprensa poderosa que foi execrada das “tetas do governo” tem feito uma campanha cerrada contra o senhor. Tem sido impiedosa.  Mas, Presidente, governo é para levar bordoada mesmo. Faltou habilidade de sua parte. Sei que para esses veículos de comunicação nada ou quase nada de seu governo é positivo. Lembra quando o senhor estava na oposição e fazia constantes denúncias contra o governo do PT e municiava esses veículos para sentar o sarrafo nos governos de Lula, de Dilma e de Temer? É, assim mesmo, Presidente!

Aqui, faço uma avaliação pelo que aconteceu recentemente no nosso Rio Grande do Norte. O senhor trouxe dois ministros norte-rio-grandenses à tira colo para anunciar investimentos de quase 1 bilhão de reais que se transformarão em benefícios para milhares de potiguares e outros nordestinos, trazendo praticamente a redenção hídrica para o RN. Mas o senhor e a sua assessoria erraram ao não convidar a governadora Fátima Bezerra para prestigiar o evento. Finalmente, era um ato de Estado e não um ato de governo. Mas voltando ao tratamento dado pela imprensa à sua visita e de sua comitiva ao RN, principalmente os que se valem das redes sociais, foi algo asqueroso. A cobertura para o principal motivo de sua visita, no caso a liberação de mais recursos para finalizar a obra da Barragem de Oiticica que já se arrasta há quase 20 anos, e a liberação de quase 1 bilhão de reais para uma nova etapa da Transposição das águas do Rio São Francisco, quase não mereceu relevância.  Teve jornalista que não se deu trabalho nem de registrar o objetivo principal de sua visita ao RN, mas teve a preocupação de se apressar para publicar fotografias com operários erguendo a mão em formato de um L e aí provocou uma discussão bestial se o L era de Lula ou formato de uma arma, além de outras coisitas menores. Bestialidade pura. O senhor tem que entender que tudo nesse Brasil, tudo o que merecer opinião pública, está politizado. E isso tem se tornado um inferno para quem analisa todos os episódios com equilíbrio.

Mas foi em um de seus discursos feitos aqui pelas terras de Câmara Cascudo que o senhor falou das suspeitas de corrupção em seu governo por conta da compra da vacina indiana Covaxin. Me desculpe, Presidente, mas nesse seu discurso não senti a sua firmeza de sempre quando tratou do assunto. O senhor estava com um “sorriso amarelo” como se diz aqui no nosso Nordeste quando alguém está sorrindo falsamente. Pois bem, fiquei com a pulga atrás da orelha. Será que essa história da corrupção na compra da Covaxin tem fundamento ou é mais um “pantim” da CPI da Covid no Senado? Na verdade, o seu governo está com uma história mal contada nesse caso da Covaxin, pois quem conhece o trâmite governamental para a aquisição de compra de bens ou serviços sabe perfeitamente que quando se empenha uma verba é porque todo o processo está concluído para se adquirir, no caso, o bem. Aí, Presidente, quando a “bomba estoura” vem o ministro Queiroga dizer publicamente que não pagou, nem vai pagar e nem vai mais comprar a Covaxin. Por que não vai mais comprar, se todo o processo foi concluído? Não dá pra entender. Tem boi na linha, Presidente!

Torço para que tudo seja esclarecido e o senhor retome as rédeas da gestão para fazer valer todas as suas propostas feitas durante a campanha eleitoral,  caso contrário o seu governo, além de registrar o pico de mais de 14 milhões de desempregados (mesmo creditando muitos desses à pandemia), não conseguir ser plausível para justificar o aumento assustador nos preços do feijão e do arroz e silenciar por conta dos exorbitantes preços do gás de cozinha e da gasolina, óleo diesel e o etanol, vai carregar nas costas o peso da morte de mais de meio milhão de pessoas e a pecha da corrupção, o que se constituirá mais uma decepção para a grande maioria dos brasileiros.

E é por conta desses questionamentos negativos de sua gestão, Presidente, que tenho ouvido muita gente que votou no senhor a perguntar: o que é que é isso, Bolsonaro?