Por: Bosco Afonso
Na quinta-feira passada, 2, as redes sociais foram invadidas com vídeos e áudios de episódio entre um padre e um casal envolvidos com práticas sexuais. No dia seguinte às divulgações, a Arquidiocese de Natal simplesmente anunciou o afastamento do padre da Paróquia de Nossa Senhora de Candelária.
Nenhuma só palavra em favor do padre Júlio. Nem da Arquidiocese, nem de nenhum colega que conhecesse a história e defendesse o padre naquele episódio. Todos, impiedosamente, “crucificaram” o padre que transgredira as regras canônicas da Igreja Católica como se ele não fora um ser humano, com virtudes e defeitos.
Ontem, na homilia da Missa do domingo, na Igreja Matriz de Parnamirim, o padre Antônio Murilo de Paiva, conhecido pela sua dedicação pastoral e também pela clareza de sua posição política em favor do Partido dos Trabalhadores, ergueu sua voz em defesa do padre Júlio. Foi o único.
Sobre a propagação do episódio envolvendo o padre Júlio, inicialmente, padre Murilo falou do comportamento de religiosos no século passado. Citou Frei Damião — inclusive dizendo que se fosse ao tempo passado, o frade italiano “já teria organizado o povo e tocado fogo naquela rádio, naquela TV que tem um cara sem futuro que fica falando mal dos padres”. Também comentou o episódio ocorrido no Ceará envolvendo padre que obrigou um jornalista a engolir parte do jornal que publicara, mas alertando que “os tempos eram outros”.
Durante a homilia, padre Murilo registrou que o ato envolvendo o padre Júlio e divulgado no final da semana que passou ocorrera em 2012, há dez anos, e a conversa aconteceu em 2019.
Corajosamente, padre Murilo historiou todo o episódio, falou sobre os direitos canônicos, confirmou que o casal envolvido no episódio atualmente frequenta a igreja sob a direção do padre Júlio e defendeu perdão como ponto principal do envolvimento do colega sacerdote.
Sempre falando do perigo do julgamento das redes sociais, revelando a necessidade de que os padres precisam ter alguém que os defendam — um claro recado à Arquidiocese — o padre Murilo foi enfático ao dizer “que triste raça é essa de padre que não tem ninguém que defenda! Homens que se dão a vida inteira, todo dia e toda a hora e não tem ninguém que nos defenda, nem nós mesmos…Que coisa…Que coisa… Que triste raça é essa que não tem quem nos defenda!”
O áudio abaixo tem mais de 14 minutos, mas seu conteúdo demonstra a preocupação do padre Murilo com o julgamento prévio das redes sociais e faz um alerta às autoridades eclesiásticas.
Ele deveria ser mais prudente com as histórias de vida deles.