No calendário das religiões de matrizes africanas, o 2 de fevereiro é dedicado à Iemanjá. Uma data repleta de simbolismo, cultura, ancestralidade e celebrações.
Em Natal, a rainha do mar está representada na obra do escultor Emanoel Câmara, nas areias da Praia do Meio. A escultura está de mãos abertas e de uma forma estratégica, se mostra numa postura acolhedora e guardiã, recebendo de braços abertos todo o povo que chega para adentrar em suas águas.
A comemoração é muito representativa para a cultura afro em todo o RN e tem muita força em outros estados, como por exemplo, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco. Kleber Moreira é mestre da Nação Zamberacatu e explica que o dia que saúda Iemanjá, vem de uma tradição das nações do candomblé Ketu. Em Natal, as celebrações em forma de evento, segundo ele, tiveram início em 2012 com o Batuque para a Rainha do Mar, idealizado e executado pela Nação Zamberacatu.
O mestre ressalta a importância dos festejos. “Para o povo de axé, celebrar a rainha do mar tem um significado único, ela representa a vida, a mãe de todas as cabeças, guia para todos os filhos de santo. A importância da realização de um evento de grande porte para essa celebração é dar visibilidade para a cultura afro religiosa da nossa cidade”.
Nesta quinta-feira (02), pela primeira vez, a entrega do presente de Iemanjá se iniciará em Ponta Negra, próximo ao Morro do Careca, pois a entrega da jangada com as oferendas, pode ser comprometida pelos corais e pela maré da Praia do Meio, que torna o momento religioso bastante perigoso.
Num segundo momento, acontece a concentração na Ponta do Morcego de onde seguirá um cortejo com batuque em direção à estátua da Divindade dos Mares.
Com a ancestralidade, representatividade e axé enraizado em suas veias e o amor pulsante pelo Candomblé, Gaby Varela enaltece o dia e atua como uma das batuqueiras e cantoras da Nação Zamberacatu. Para ela, as cerimônias também são uma forma de demonstrar resistência: “A importância de fazer esses festejos ali, ou em qual parte for, é mostrar que existimos, resistimos, apesar da intolerância religiosa, da perseguição e do racismo, que estrutura nossa sociedade”. Gaby ainda enfatiza os valores simbólicos que perpassam gerações:
“Até a década de 60, as religiões de matrizes africanas, qualquer prática afro religiosa era considerada crime no Brasil. Após todas essas décadas, hoje, a gente poder comemorar isso nas ruas, mostrando nossa arte, levando nosso batuque, e a nossa celebração aos orixás e aos nossos ancestrais, é de extrema importância para mostrar que tudo isso ainda existe e é vivo”.
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
A primeira estátua de Iemanjá, na Praia do Meio, foi esculpida em 1999 pelo potiguar Etewaldo Santiago, já falecido. Ao longo dos anos, foram muitos os episódios de depredação e vandalismo, mas a imagem se mantém como um símbolo religioso e também cultural para potiguares e turistas.
A deterioração levou a Secretaria de Cultura de Natal (Funcarte) a optar pela substituição da peça, o que aconteceu em 2020. A obra atual foi confeccionada pelo escultor também potiguar Emanoel Câmara. A peça é feita de pedra calcária, mesmo material da imagem católica de Nossa Senhora de Apresentação, que segue em processo de restauro.
Para evitar novas depredações e ações de vândalos, desde novembro de 2022, a estátua de Iemanjá é monitorada 24 horas pela Guarda Municipal, através de câmeras de vigilância. Em caso de ocorrências ou atitudes suspeitas, a Guarda Municipal ou a Polícia Militar são acionadas imediatamente para o local.
Programação
06h- Entrega do presente de Yemanjá na praia de Ponta Negra próximo ao Morro do Careca
17h- Concentração na Ponta do Morcego – Roda de Ogans com o Elemaxó
18h- Início do Cortejo Batuque para a Rainha do Mar
19h- Saudação a Yemanjá com a Nação Zamberacatu (Estátua de Yemanjá)
20h- Show de Tikinha Rodrigues (@tiquinharodrigues)
21h- Show da Banda Asè Delas (@asedelasrn)