Plano de Saúde publica edital para contratar médicos em que a classificação é pontuada por quem pedir menos exames
A Unimed Natal lançou edital para o preenchimento de 51 vagas para especialistas em quatro centros clínicos da Capital potiguar, em junho passado. Dois dos principais critérios de classificação foram a média de exames solicitados e o custo médio gerado por consulta, em que a cooperativa determinou que, quanto menor estes dois fossem, maior seria a pontuação obtida pelos candidatos. Isso significa dizer que, serão classificados os candidatos que solicitarem, em seus atendimentos clínicos, menos exames médicos e tiverem o menor custo por consulta de pacientes.
O médico oncologista Thiago Carlos foi convidado a participar da seleção e se surpreendeu com os critérios de pontuação da Unimed Natal, que usa como regra de desempate dos candidatos classificados o menor custo médio de solicitação de SADT (Serviços Auxiliares Diagnóstico e Terapia) e o menor número médio de exames solicitados por consulta. “É uma situação esdrúxula, absurda. É uma política econômica e não de saúde, protocolo baseado em economia financeira e não em cuidado com a saúde do paciente. Imagine quantas vidas não podem ser ceifadas por isso”, desabafou.
Thiago Carlos reafirmou que a situação é absurda e motivada pela ganância da diretoria da Unimed Natal, cujo diretor-presidente é Fernando José Pinto de Paiva. Ele detalhou que há um “verdadeiro cartel” médico, em que há casos de profissionais, que integrariam esse sistema, lucrando entre R$ 150 mil e R$ 450 mil mensais com a “cartelização” de consultas e procedimentos médicos realizados por médicos cooperados e centros de saúde credenciados. E citou a Liga Contra o Câncer, referência em tratamento de pacientes oncológicos no Rio Grande do Norte.
“A Unimed Natal foi para dentro da Liga e dominou tudo. Outras clínicas não podem se credenciar para oferecer seus serviços porque eles não permitem, para que o lucro fique apenas entre eles. Eu prescrevi uma quimioterapia para meu paciente, mas este não pode receber o tratamento na minha clínica, tem que ser encaminhado para a Liga, junto aos pacientes do SUS, porque o lucro desse procedimento fica com os médicos de lá. Uma situação dessas pode gerar um lucro de R$8 mil”, afirmou o especialista.
Ele disse ainda que os cooperados não podem acionar a justiça contra a cooperativa, em favor dos pacientes, sob pena de expulsão. “Está no Estatuto da Unimed Natal. Não podemos processá-la. Imagine uma situação em que há um medicamento aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas não é contemplado pelo plano. O médico não pode aceitá-lo. Aconteceu comigo, uma paciente teve o tratamento recomendado negado, acionei a Justiça, que concedeu o direito, ou seja, batalhei pela minha paciente e a Unimed quis me colocar para fora por causa disso”, detalhou.
Para o oncologista, que lida com casos extenuantes emocional e físico para pacientes e médicos, esses detalhes, somados aos critérios de economia em solicitação de exames e custo médio gerado por consulta, comprometem diagnósticos precoces, tratamentos e cirurgias que podem evitar situações irreversíveis e até mesmo a morte de pacientes. “Por isso, sempre recomendo que se busque uma segunda opinião, porque, hoje, tudo é baseado em evidência científica”, orientou.
CENÁRIO TRISTE E ASSUSTADOR
O cenário que o médico oncologista Thiago Carlos revelou é triste e assustador: Não há credenciamento de novas clínicas, que podem oferecer visões e tratamentos mais modernos; os cooperados não podem acionar a justiça para garantir os direitos de seus pacientes e os ainda são incentivados, praticamente obrigados, a não solicitar exames e procedimentos/medicamentos que podem representar a qualidade de uma vida e a cura de uma doença que, se não diagnosticada ou tratada a tempo, pode representar a morte de uma pessoa e o sofrimento de famílias inteiras.
“Imagine quantas vidas estão sendo ceifadas com isso. Não pensam no paciente, apenas em economizar com os exames e obter o máximo possível de lucro. Trabalhamos baseados em evidências científicas, com protocolos médicos e eles perderam completamente a lógica. Como é que um médico vai trabalhar sem pedir exames ou pedindo apenas o mínimo do mínimo. Sempre defenderei meus pacientes com Medicina baseada em evidências e protocolos estabelecidos pelas sociedades de oncologias nacionais e internacionais”, afirmou Thiago Carlos.
Ele revelou que recebeu o edital para participar da seleção, mas ficou indignado com os critérios de seleção. “Achei um absurdo. Os critérios de seleção deveriam ser um profissional competente, com doutorado, conhecimentos e trabalho baseado em evidências. Mas, eles não querem bons médicos, mas sim aqueles que se encaixem dentro da política da Unimed Natal. Não participei dessa seleção, nem recomendo. É um cartel o que está sendo feito”, explicou o oncologista.