Deputada federal do PT liga atos de Jefferson a Bolsonaro. General Girão afirma que fato não deve interferir na campanha
“Roberto Jefferson é a expressão fiel do bolsonarismo, criminoso e que se sente acima da lei. Esse episódio é a prova que estão dispostos a tudo para provocar o caos nas eleições. A violência e a imposição do medo é a forma de fazer política deles”, afirmou a deputada federal reeleita Natália Bonavides (PT), sobre as quatro tentativas de homicídios cometidas pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) contra policiais federais que cumpriam mandato de prisão contra ele, neste domingo (23), no Rio de Janeiro. O aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) jogou três granadas e efetuou disparos de fuzis contra os agentes, que ficaram feridos, e uma das viaturas da Polícia Federal foi atingida.
Para a parlamentar, o comportamento do ex-deputado é fruto do desespero pela possibilidade de Bolsonaro perder a eleição do próximo domingo (30) e que a escalada da violência eleitoral no país só poderá ser encerrada com o povo nas ruas e com o resultado das urnas eletrônicas, alvos de inúmeras desinformações pelo próprio Bolsonaro e seus apoiadores. “As pesquisas já mostram que eles perderão, por isso o desespero, não tem qualquer limite. Todos os dias, a imprensa noticia agressões e desrespeito, então a gente tem uma oportunidade única de começar a acabar com isso no dia 30, votando em Lula”.
“A campanha de Bolsonaro está envolvida em diversos escândalos, como o “pintou um clima com uma menina de 14 anos”; com o gravíssimo ataque aos trabalhadores com o não reajuste do salário mínimo e a aposentadoria; com cortes absurdos na educação, deixando universidades correndo o risco de fechar as portas; o descaso com a saúde pública, com cortes de investimentos e ataques às vacinas; sem falar nos escândalos de corrupção, como o orçamento secreto. Bolsonaro jogou o povo pobre mais ainda na miséria. Do nosso lado temos Lula, que criou políticas públicas e que defende e ama seu povo. A escolha é muito fácil”, afirmou Natália.
Após oito horas de negociações, que incluíram a visita do ministro da Justiça Anderson Torres, Roberto Jefferson se entregou no início da noite, quando a Polícia Federal pode cumprir a ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por violação das medidas de prisão domiciliar. Investigado pelo inquérito das milícias digitais, ele havia sido beneficiado em janeiro passado, mas não poderia usar redes sociais ou conceder entrevistas sem autorização judicial, o que não foi respeitado pelo ex-parlamentar.
Conhecido por atacar as instituições democráticas e por tumultuar o processo eleitoral com desinformações sobre o sistema brasileiro de votação, Roberto Jefferson divulgou vídeo com graves ofensas à honra e dignidade da ministra do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carmen Lúcia, quando usou palavrões e termos machistas e misóginos. Ele foi autuado em flagrante por quatro tentativas de homicídios, nesta segunda-feira (24).
GIRÃO: ALGO LAMENTÁVEL
“Essa reação do ex-deputado Roberto Jefferson é algo lamentável. Na verdade, é um crime, é um ato criminoso cometido por ele e eu não posso concordar de maneira nenhuma”, afirmou o deputado federal reeleito General Girão (PL), sobre o ataque de Roberto Jefferson aos policiais federais neste domingo. Da base do governo federal no Rio Grande do Norte, ele acredita que as tentativas de homicídio cometidas pelo aliado de Jair Bolsonaro não devem interferir na campanha presidencial.
“Eu acredito que não tenha nenhum problema porque o presidente Bolsonaro já se posicionou sobre o caso. A polícia estava construindo o papel dela. Reconheço e tenho uma preocupação de que ele (Roberto Jefferson) esteja sendo perseguido de todas as maneiras pelo Supremo Tribunal Federal na pessoa do ministro Alexandre de Morais e, também, do plenário que não cerceou essa decisão do tal ministro. Mas, nada justifica o ato criminoso que ele cometeu de atirar contra a polícia”, lamentou Girão.
Bolsonaro pode perder voto de eleitor indeciso, mas consciente, crê cientista
“É um momento muito triste do país. Há um agravamento da crise institucional, com o Judiciário sendo atacado frontalmente. E existe um ambiente favorável a esse aprofundamento da crise, à medida em que o próprio presidente da República ataca as instituições e o STF, ou seja, seus seguidores mais fanáticos, como é o caso do Roberto Jefferson, levam isso à sua expressão máxima, a ponto de jogar granadas em policiais federais. É muito grave, muito sério”, avaliou o cientista político Bruno Oliveira.
Ele falou que o fato do presidente Bolsonaro ter determinado que o ministro da Justiça, Anderson Torres, acompanhasse o caso, é estranho e exagerado. “Se não fosse um aliado, será que ele tomaria a mesma atitude? Fosse o presidente de um partido que não fosse aliado, teria o mesmo cuidado? A própria Polícia Federal estranha esse movimento do presidente porque a prerrogativa da prisão e de todos os procedimentos é dela”, disse.
Para o especialista, vivemos um momento muito delicado de campanha eleitoral, mas é preciso ter civilidade para se questionar decisões jurídicas que não são de seu agrado dentro dos ritos pertinentes. “Já pensou se isso vira recorrente? Só cumprir decisão judicial se concordar com ela? Quem vai aceitar ser preso? Isso é muito grave e atinge frontalmente as instituições, que já estão bastante combalidas e a atuação do ministro é muito estranha, já que se trata de um dos aliados mais fanáticos do presidente”, explicou o cientista político.
E acredita que, quem é eleitor de Bolsonaro, não mudará seu voto por causa disso. “Seus eleitores já demonstraram, há muito tempo, que concordam com todas as posturas, inclusive as menos republicanas, do presidente da República. Perder votos dos seus eleitores, não. Agora, votos dos indecisos, que representam um número muito pequeno da sociedade, pode ser que ele perca sim, principalmente do eleitor mais consciente e menos fanático”, finalizou.