Por Bosco Afonso
Alguém já disse e a frase é verdadeira: “o jogo político é para profissionais”. É para quem sabe jogar.
Quando se pensa que as jogadas políticas só acontecem durante os períodos eleitorais há um engano imensurável para quem não conhece as jogadas puramente políticas no desenvolvimento das ações administrativas.
É como acontece no momento com uma decisão administrativa do governo federal com a participação necessária da Câmara dos Deputados.
Trata-se da aprovação da PEC dos Precatórios que, em sendo aprovada no segundo turno irá permitir ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) oficializar o seu novo programa social (que vai substituir o Bolsa Família) denominado de Auxilio Brasil.
E aonde estão as jogadas políticas?
Ora, o presidente Bolsonaro e a sua equipe econômica, que deveriam ter feito o dever de casa lá atrás, sabem que no momento só na eventual aprovação da PEC dos Precatórios (que possibilita retardar o pagamento desses compromissos financeiros já determinados pela justiça) é que terá dinheiro para bancar o Auxilio Brasil. E a oposição sabe que com esses recursos financeiros saídos dos precatórios viabilizam a implantação do Auxílio Brasil, onde o presidente Bolsonaro vai pagar o valor de R$ 400,00, além de acrescer o benefício para mais de 17 milhões de pessoas, quando hoje esses beneficiados são em torno de 14 milhões de brasileiros.
O fato do desencontro entre governo e oposição não está simplesmente na aprovação da PEC dos Precatórios. Está, sim, na destinação desses recursos, pois, certamente, Bolsonaro será o mais beneficiado com a institucionalização do seu programa social Auxilio Brasil, uma vez que a ação governamental deverá refletir numa recuperação de imagem política do presidente da República, principalmente na região Nordeste.
Mesmo com sua aprovação na Câmara dos Deputados, em primeiro turno, a aprovação da PEC dos Precatórios corre o risco e não contar com a mesma votação em segundo turno e consequentemente a implantação do Auxilio Brasil estará ameaçada, pois deputados (parlamentares em geral) que condenam a interferência do judiciário no desempenho do Executivo e do Legislativo, recorrem agora ao Superior Tribunal Federal (STF) na tentativa de inviabilizar a proposta governamental. Mesmo que para isso tenha que sacrificar a implantação do programa social Auxilio Brasil que, direta e indiretamente penalizará mais de 17 milhões de brasileiros.
E aí se comprovam as jogadas políticas entre governo e oposição, onde nenhuma das partes respeitam as consequências de seus atos. E tudo é válido para ambas as partes, desde que seus interesses maiores estejam preservados, pois o jogo político é sempre jogado com a maestria das operações de guerra.