“Álvaro Dias sempre terceiriza a responsabilidade pelos problemas de sua gestão. A verdade é que a saúde e o SUS não fazem parte de seu projeto político”, afirmou o vereador de Natal, Daniel Valença (PT), ao avaliar a declaração do prefeito Álvaro Dias (Republicanos) de que contratará uma empresa especializada para realizar uma auditoria nas contas e gastos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Para o parlamentar, o prefeito atribui os problemas com gastos da pasta a problemas alheios à sua administração.
“Uma gestão que fecha unidades de saúde, como aconteceu com as unidades de Felipe Camarão e do Planalto e ainda o Hospital Pediátrico Nivaldo Júnior, sucateia as unidades de Saúde da Família (USFs) e unidades básicas de saúde (UBSs), não implementa o piso da enfermagem, não garante a data base e os reajustes das categorias e ainda criminaliza as greves. Em verdade, é uma gestão que atua contra o direito do povo a ter acesso à saúde”, afirmou Valença.
O vereador disse também que o próprio Sindicato dos Médicos, categoria da qual Álvaro Dias faz parte, afirma que hoje 60% da força de trabalho é terceirizada. “Ou seja, não há planejamento público algum. Não precisa contratar consultoria alguma para chegar nesse diagnóstico, já plenamente demonstrado. Já visitamos o Hospital Pediátrico Nivaldo Júnior no dia em que este foi fechado, a Maternidade Dr. Araken Pinto por três vezes e várias unidades básicas e de saúde da família. A realidade das unidades é isso, é a realidade de sucateamento, talvez, inclusive, com o objetivo de justificar o fechamento posterior”, avaliou.
As situações narradas por Valença são denunciadas constantemente pelos próprios servidores da área, que reclamam, sobretudo, da falta de insumos básicos anti-inflamatórios, corticoides, medicamentos para curativo, gazes e alguns tipos de soro, especialmente na Araken Pinto. Os funcionários reclamam, também, da falta de mão de obra – especialmente de enfermeiros – e da superlotação da unidade, que abriga no mesmo lugar pacientes pediátricos, maternidades e casos clínicos. Outros servidores dizem que, em UPAs, falta até analgésicos simples como dipirona.
Diante disso, os vereadores da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de Natal estão programando uma visita de fiscalização no Araken Pinto para averiguar a situação da unidade, mas somente no dia 7 de agosto, após a volta do recesso parlamentar. Segundo o presidente do comitê, vereador Herberth Sena, a falta de medicamentos e outros itens já havia sido identificada pela Comissão de Saúde em visitas de fiscalização a estabelecimentos de saúde de Natal.
Para ele, a falta dos insumos e as dificuldades financeiras são provocadas pelo aumento no custo de mão de obra e de medicamentos. E que aprova a contratação de uma auditoria para auxiliar a gestão municipal na racionalização dos gastos em saúde. “Acho que a auditoria pode unificar serviços, centralizar algumas informações. Isso vem para melhorar o serviço de saúde. Na última prestação de contas, o secretário (George Antunes) disse que, com a elevação de custo e serviços terceirizados, eles estavam buscando unificar serviços e fechar alguns. Automaticamente, quando unifica, não vai ser do mesmo jeito”, disse Herberth.
O vereador defendeu ainda a necessidade de se rever o fluxo de pacientes de outras cidades para Natal, o que congestiona o atendimento em unidades de saúde da capital potiguar. “Atualmente, unidades de pronto-atendimento e hospitais de Natal atendem a pacientes que moram em cidades como Parnamirim, Extremoz, Ceará-Mirim e até Maxaranguape e Macau, que ficam mais distantes da capital”.
ÁLVARO ANUNCIA AUDITORIA NA SMS
O prefeito Álvaro Dias (Republicanos) anunciou que contratará uma empresa para auditar os gastos da Secretaria Municipal de Saúde, nesta quarta-feira (26), em entrevista à 98 FM. Para ele, parece haver “alguma coisa errada na pasta”, diante dos relatos de servidores de falta de insumos básicos em unidades de saúde do município mesmo com a prefeitura gastando bem mais do que o mínimo que a Constituição obriga.
O gestor também disse que o secretário municipal de Saúde, George Antunes, será convocado para buscar mais informações. “Se isso está havendo, vamos conversar com George Antunes para que ele possa tomar as providências para evitar que isso continue a acontecer. Porque realmente hoje a maior despesa do município é com saúde. Inclusive, estamos negociando com uma empresa de consultoria para ver o que a gente vai poder manter e o que é que a gente não vai poder manter”, disse.
“Vamos contratar uma consultoria, uma auditoria, para ver como está o funcionamento de toda a Secretaria de Saúde. Levantamento de custo, de gasto, de necessidade de serviço. O que está gastando, o que tem necessidade de manter, o que pode ser fechado, para ajustar os custos e os gastos do município. Se está sendo gasto de maneira diferente que deveria, se é preciso ajustar os serviços, se está sendo mal utilizado. Todo esse estudo vamos fazer porque estamos em contato com uma consultoria que vai fazer uma análise profunda, detalhada de toda a situação da saúde do município”, afirmou o prefeito.
George Antunes, sobre auditoria: “Entendo e aceito com muita tranquilidade”
“Toda auditoria é bem-vinda. Obviamente, nós não somos absolutos em nada. E eu entendo e aceito com muita tranquilidade qualquer ajuda nesse sentido”, afirmou o secretário municipal de Saúde, George Antunes, ao comentar a auditoria prometida pelo prefeito Álvaro Dias nesta quarta-feira (26), com exclusividade ao Diário do RN. Ele falou ainda que já foi informado sobre a avaliação nas contas da pasta.
“Já fui informado sim, pelo prefeito Álvaro. Estou totalmente à disposição dele e da empresa que será a responsável pela avaliação das contas da secretaria. Os gastos da pasta são gastos naturais da área, pois tudo é caro nela. Os serviços de saúde não são baratos e o município de Natal oferece muitos serviços à população. Aliás, Natal arca com muitos serviços de municípios vizinhos, como todos sabem, e tudo isso custa caro”, explicou o secretário.
George revelou que o município precisa receber aumento do teto do governo federal, que não acontece há muito tempo, o que acaba sobrecarregando os recursos do tesouro municipal. “Também estamos sem receber as contrapartidas do governo estadual, o que só piora a nossa situação. O fato é que toda auditoria é bem-vinda. E eu aceito com tranquilidade”, garantiu.