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BENES LEOCÁDIO PODE SER O MARINHEIRO, MAS NÃO DE PRIMEIRA VIAGEM

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Benes Leocádio – Agência Infra
Reprodução

Por Bosco Afonso

Ainda é cedo para oficializar, mas a candidatura do deputado federal Benes Leocádio vai se consolidando entre os políticos que fazem oposição à governadora Fátima Bezerra e, assim, poderá unir a oposição formada por alguns dos principais “caciques” da política potiguar.

Antes mesmo de se oficializar essa candidatura de Benes ao governo estadual já se começa a subestimar o potencial do deputado que teve mais de 125 mil votos no último pleito proporcional. Benes pode até ser batedor de esteira na próxima eleição, mas também poderá se transformar nO Marinheiro, que não será de primeira viagem.

Quem lembra a história do marinheiro, que lançado pelo mago Aluízio Alves se tornou Senador da República?

Dinarte Mariz e Aluízio Alves – Foto: Reprodução Montagem

É só retroceder ao ano de 1974, portanto, há 47 anos, para não se surpreender com resultados eleitorais aqui pelas terras de Câmara Cascudo. Ainda vivíamos momentos da “Redentora”, quando naquele ano, ainda com a indicação biônica do Governador haveria a disputa por uma das três vagas do RN no Senado Federal. A disputa foi entre a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Da mesma forma que atualmente, a oposição teve dificuldades em encontrar um nome para enfrentar o favoritismo do célebre Djalma Marinho (avô do ministro Rogério Marinho) que obtivera performance nacional com a frase histórica de autoria do espanhol Calderón de la Barca (“Ao rei tudo, menos a honra”) ao confrontar o controle do militarismo, mesmo sendo ele da Arena, que era o partido governista.

Pois bem, a história pode retroceder, com outros personagens, mas que de qualquer forma se identificam com o passado.

Tarcísio Maia, centro da foto, apoiou Djalma Marinho – Foto: reprodução

Em 1974, a política potiguar era polarizada através das lideranças máximas de Dinarte Mariz e Aluízio Alves. Dinarte, fiel escudeiro da Revolução de 1964, contava em seu staff político com o brilhantismo do advogado Djalma Marinho. Aluízio, líder maior da oposição, já não contava com nomes representativos. Dinarte lança o nome de Djalma Marinho, para disputar a vaga ao Senado. Aluízio, estrategista, sem nomes na oposição, foi buscar no Seridó o ex-vereador e ex-deputado estadual Agenor Nunes de Maria que naquele momento levava a vida na boléia de seu caminhão, fazendo feiras nas cidades de sua região.

Agenor Maria MDB – Djalma Marinho – ARENA

Djalma Aranha Marinho, candidato de Dinarte, renomado nacionalmente, era o favorito absoluto. Agenor Nunes de Maria, seria apenas um preenchimento da chapa de Aluízio. Inimaginável uma derrota do candidato do partido governista.

A campanha eleitoral da época não contava com a televisão, nem o rádio. Era feita no gogó e gastando sola de sapato. Precisaria “tão somente” se armar um bom palanque, contar com um bom locutor/animador, juntar uma multidão, entoar boas marchinhas, criar Ala-Moças por todo o interior, ter um bom discurso, arrancar aplausos, fazer refeição na casa do chefe político, arregimentar lideranças, visitar casa por casa, enfrentar os pedidos de ajuda e esperar o dia da eleição para receber a consagração do voto. Djalma tinha uma oratória eloquente, clássica. Agenor falava a fala do povo. Djalma se amparava à liderança de Dinarte. Agenor se amparava na liderança de Aluízio, mas gastava sola de sapato. Djalma professoral. Agenor, um marinheiro tatuado com uma âncora que servira como mote para as marchinhas empolgantes de campanha. Final da apuração que contabilizava os votos para o Senado da República, deu Agenor Nunes de Maria, o marinheiro, que mais tarde cravava a sua fase célebre na qual qualificava “O Senado é um paraíso”.

Agenor Maria sendo entrevistado. Foto divulgação

Voltemos a 2021/2022. Preparativos e a eleição do próximo ano. A governadora Fátima Bezerra segue singrando os mares calmos. Mesmo fazendo um governo chamado “feijão com arroz” e com investimentos dependendo apenas do empréstimo feito por Rosalba Ciarlini junto ao Banco Mundial e com recursos financeiros liberados pelo seu arquirrival político Bolsonaro, vai pagando a folha de pessoal em dia e ainda resgatando as dívidas com salários deixados pelo seu antecessor Robinson Faria. Com isso e um pouco mais nada especial, consolidou o seu nome para a disputa do próximo ano, enquanto que o PT, o seu partido, vai sendo reanimado pela sobrevida política do seu principal e idolatrado líder Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto o lulismo segue reflorescendo na esteira da desaprovação crescente do presidente Jair Bolsonaro. Assim, no quadro de hoje, Fátima é favoritíssima.

Reprodução

Hoje, com sua força maior ligada ao presidente Bolsonaro, representada basicamente pelos ministros Fábio Faria e Rogério Marinho, ambos na esteira do chefe, ainda sem partido, a oposição sabe que há uma distância imensurável para um seu indicado alcançar o favoritismo da lulista Fátima e mesmo assim se faz de dura e ensaia aquele ditado de que “não é peru pra morrer de véspera”. Rogério e Fábio se digladiam silenciosamente para não assumir a candidatura ao governo do estado e se emparedam mutuamente almejando disputar a única vaga do Senado. Estratégias não faltam. Pois, é essa mesma oposição que começa a vislumbrar uma luz no fim do túnel e enquanto não se decide quem será o escolhido para disputar o Senado Federal, eis que surge o nome do deputado federal Benes Leocádio para ser o adversário de Fátima Bezerra.

Deputado federal Benes Leocádio confirma candidatura a governador do RN em  2022
Reprodução/Montagem

Foi só o nome de Benes desfilar entre o noticiário tupiniquim, ainda sem estar consolidado, que petistas e acólitos governamentais passaram a querer nacionalizar a eleição, trazendo para o bolsonarista contra a petista e até insinuações de que Benes seria um bom “batedor de esteira”.

Joselito Braz : Benes Leocádio se aproxima ainda mais de Rogério Marinho e  pode ser o candidato apoiado por Bolsonaro ao governo do RN
Reprodução

Ora, em primeiro lugar, Benes não tem se conduzido como um bolsonarista de carteirinha como são Fábio e Rogério. Em segundo lugar, não se deve subestimar um adversário que na última eleição alcançou mais de 125 mil votos, demonstrou uma liderança municipalista ao se eleger presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (FEMURN) quando era prefeito de Lages e renovou seu mandato na FEMURN sem mandato de prefeito e é conhecido como agregador, um conciliador. É um interiorano nato, gastador de sola de sapato e poderá ter o respaldo da maior liderança da Capital, que é Álvaro Dias. Subestimar Benes é não lembrar do episódio político de 1974.

E lembrando que 48 depois, nessa próxima eleição, dois personagens trazem o DNA daquele episódio, que são Rogério Marinho, neto de Djalma Marinho, e Henrique Eduardo Alves, um eleitor de muito peso, filho de Aluízio Alves, só que até o momento não se conhece o posicionamento do marido de Laurita que em sua última disputa, mesmo favoritíssimo, perdeu para Robinson Faria. Cedo para qualquer avaliação mais profunda, mas não se pode subestimar Benes Leocádio que pode reviver a figura de O Marinheiro, mas que não será de primeira viagem.


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