Nesta quarta-feira, 16, o Fed, o BC dos EUA, deve tirar a taxa de juros americana da lona em que foi jogada há dois anos. E o nosso Banco Central decide no final do dia qual deve ser a nossa nova Selic, que já supera os dois dígitos.
Os dois bancos centrais estão preocupados com o mesmo problema: a disparada da inflação. Nos EUA, ela é a maior em quatro décadas: pesados 7,9%. A alta de preços é explicada pelo caminhão de dinheiro que o próprio Fed jogou na economia, no esforço de evitar que ela morresse de inanição quando as atividades foram paralisadas pelo coronavírus.
Só que isso faz dois anos. Desde então, o desemprego no país caiu a 3,8%, os salários sobem, e o PIB dos EUA avança 6,9% (na taxa anualizada). Na economia, é como se o coronavírus já tivesse sido enviado para os livros de história (ainda que o novo surto de Covid na China esteja aí para mostrar que não é bem assim).
E aí, nessa queda de braço que é o mercado financeiro, investidores afirmam que o Fed demorou a agir – isso enquanto curtiam a vida adoidado em ações arriscadas e criptomoedas.
Agora o baque vem. As apostas são de que o Fed começará aos poucos, elevando a taxa em 0,25 ponto percentual. Isso levaria a Selic deles para a banda de 0,50% ao ano. É dose homeopática, tanto que os futuros das bolsas americanas abriram as janelas dando bom dia para o sol. O anúncio sai às 15h.
Trata-se de um Fed bastante conservador, dado o potencial estrago que uma guerra pode causar nas economias globais. Vide o preço do petróleo. O barril pode ter caído das máximas de US$ 130/ US$ 140 da semana passada, mas US$ 100 ainda é caro o bastante para machucar bolsos mundo afora. Isso sem falar no impacto que a guerra causará na produção de alimentos, já que boa parte da produção mundial de trigo e outros cereais vêm da Rússia e da Ucrânia, além dos fertilizantes para as nossas lavouras.
Apertar o torniquete dos juros para resolver uma falta de oferta não salva a economia da inflação. Mata de fome. Mas deixar o dinheiro correndo solto tem o mesmo efeito. As coisas ficam tão caras que ninguém mais consegue pagar.
E nisso chegamos ao Brasil. Por aqui, depois de três altas consecutivas de 1,5 ponto percentual, agora o BC promete desacelerar o ritmo de aumento de juros. As apostas são de elevação de 1 ponto, o que levaria a Selic a 11,75% ao ano. É a maior desde 2017.
Naquela época, o juro estava na metade do processo de queda, isso depois da paulada de 14,25% para tentar baixar a inflação de dois dígitos. Aqui, ainda estamos no processo de subida, e não há sinais de que a inflação esteja desacelerando. O IPCA está em 10,54% em 12 meses, com altas disseminadas por todos os segmentos. O reajuste de combustíveis da Petrobras coloca mais lenha nessa fogueira.
Parece pouco? O governo de Jair Bolsonaro vai trocar lenha por gasolina, aumentando o tamanho das labaredas. Nesta semana, ele deve anunciar a antecipação do 13º para aposentados do INSS, a liberação de saque de R$ 1 mil do FGTS e ainda medidas de estímulo ao crédito.
São atos obviamente eleitoreiros, que acenam à população que não consegue mais fechar as contas no fim do mês com a disparada da inflação. Só que trata-se de um efeito placebo.
Na vida real, é mais dinheiro circulando em um cenário de escassez de produtos, o que tende a deixar tudo mais caro. Isso sem falar que atenua o efeito da alta de juros do BC. É como se o Banco Central fechasse a torneira d’água, e o governo Bolsonaro fizesse um furo no cano.
As informações são do VC/SA