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MORO PERDEU O CARIMBO DO COMBATE À CORRUPÇÃO

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Ex-ministro Sérgio Moro – Foto: Divulgação

O ex-juiz Sérgio Moro anuncia assinatura em ficha de filiação partidária neste dia 10 de novembro. A assinatura dele em mandados de prisão, de busca e apreensão, faziam mais efeito e produziam consequências práticas na vida político-administrativa nacional.
Moro foi símbolo de combate à corrupção. Máscaras com sua imagem eram usadas no Carnaval, representando o que boa parte da população sentia por suas corajosas decisões, de mandar empresários milionários, bilionários e políticos de alta patente para a cadeia. Um simbolismo forte diante da impunidade reinante no Brasil.
O problema é que Moro misturou Justiça com política e contaminou suas decisões. Para piorar, as revelações de conversas internas no Telegram, mostraram que não havia motivação apenas de buscar a Justiça contra os poderosos. Havia a escolha de um lado a proteger e outro a ser perseguido.
O símbolo do combate à corrupção começou a perder o verniz com a posse do então juiz em um cargo de confiança de um agente político.
Ficou claro que Moro prendeu Lula para facilitar a vida eleitoral de Bolsonaro. E conseguiu. O cargo de ministro da Justiça foi a fatura inicial.
Mas, se Moro pensava que trocar sua nomeação vitalícia no Judiciário pela posse provisória no Executivo, iria fortalecer sua imagem de combate à corrupção, enganou-se.
A posse no ministério de Bolsonaro raspou a credibilidade que havia na pintura do quadro de juiz combativo, corajoso e imparcial. Como a ferrugem corrói o ferro, a rápida permanência de Moro entre os políticos adversários daqueles que ele mandou prender, sua imagem foi consumida pelo interesse pessoal, parcialidade funcional e descompromisso com a Justiça. Ferrugem que só aumentou com as picuinhas, fofocas e mentiras entre ele e o presidente da República.
Quando Moro anuncia filiação a um partido político, o eco positivo já não é o mesmo. Pelo contrário. A decepção de quem acreditou num juiz justo é crescente e uma rápida analogia traz o comparativo inevitável:
Se, como juiz, ele foi capaz de cometer injustiça e mentir para atingir seus objetivos, como seria na condição de político, que em geral, faz tudo pelo poder e para nele permanecer?
Sérgio Moro ainda mantém pessoas que acreditam nele e ainda há quem o admira. Mas esse percentual caiu vertiginosamente a partir da fotografia feita sem filtro de alguém que usou o poder que tinha para criar condições de elegibilidade para seu futuro chefe, em nome do sonho de um cargo ainda maior, que seria ser ministro do Supremo Tribunal Federal.
A vaidade humana em excesso é patológica e perigosa, namora com abismo e casa com o fracasso.
Portanto, Moro já não é mais aquele Moro. Seu principal capital pessoal ruiu de forma irreversível. Ninguém vota em quem não admira. No caso de Moro, as pessoas começaram a admirar sua coragem e terminaram decepcionadas com sua covardia e seu passionalismo, irreconciliável com o senso de Justiça e com o papel de juiz justo.
É possível que ele cresça eleitoralmente? Claro. Em política, tudo é possível.
Porém, antes odiado pela esquerda e pelo PT por ter prendido Lula e endeusado pelo grupo de Bolsonaro, o quadro mudou.
Hoje, Moro continua odiado pela esquerda e acrescentou o ódio de Bolsonaro, com um acessório, a pecha de traidor do capitão.
O que resta a Moro? A chamada terceira via? Formada por quem não quer Lula ou Bolsonaro?
O problema é que, quem não quer Lula ou Bolsonaro, também não quer Moro sem a fantasia de juiz corajoso. Aquele Moro morreu. Com ele, foi sepultada a admiração e a possibilidade de voto.
Moro vai precisar de muito mais que o passado para ‘encantar’ o eleitorado. Tarefa não muito fácil para quem era acostumado a usar somente a caneta para fazer valer suas vontades. Ou, no modelito mais moderno, a assinatura eletrônica.
Sem caneta e com a imagem rabiscada negativamente, Moro vai ter que inventar algo absolutamente diferente para impressionar o eleitorado. Não será fácil.


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