A polêmica do momento envolve a ex-dançarina do É o Tchan, Silmara Miranda, que virou agente da Polícia Rodoviária Federal, cresceu profissionalmente, ascendeu a posto mais elevado e é vítima de preconceito, na medida em que há questionamentos explícitos a respeito de sua capacidade profissional, numa mensagem subliminar em que é sugestionado que sua carreira está vinculada à sua beleza.
Desde quando mulher bonita e gostosa também não pode ser talentosa, competente, inteligente, perspicaz e outros adjetivos que não são inerentes à beleza, mas podem compor o figurino integral de uma mulher.
O machismo no Brasil é materializado de várias formas; principalmente para diminuir a capacidade profissional das mulheres, pagar salários menores, não deixar que elas progridam nas carreiras e tornar as mulheres submissas e subservientes aos homens do comando.
Nesse caso da ex-dançarina, o preconceito já começa com a antiga profissão, numa demonstração indireta de que ser dançarina é algo menor, vulgar, em que o uso do corpo é a única demonstração de capacidade.
Silmara Miranda dançou no É o Tchan, depois fez o curso de jornalismo, passou no concurso público para Agente da Polícia Rodoviária Federal, se inscreveu em processos seletivos internos para ascender na carreira, mudar de domicílio funcional e assumiu cargo de chefia.
O que tem de errado na carreira de Silmara?
Ser mulher bonita, ser ex-dançarina, ter tirado uma foto com o presidente Bolsonaro?
É um misto.
Ser mulher já é um problema para crescer profissionalmente. Ser mulher, bonita e gostosa então, é um crime contra a mediocridade e o preconceito. Ser loira não natural também é de alta periculosidade. Ser ex-dançarina é uma mácula e ter tirado foto com o presidente, é um crime ainda maior.
Por trás de tudo isso há o preconceito embutido de forma subliminar e o componente político partidário.
Silmara Miranda é vítima de preconceito explícito contra a mulher, usando a beleza da própria mulher para fazer com que as mulheres critiquem e desconfiem da ascensão funcional da jornalista, como se fosse crime unir beleza e inteligência na mesma pessoa.
Não podemos estimular preconceitos com pitadas de racismo invertido. Se Silmara fosse feia e negra, poderia ser chefe na Polícia Rodoviária sem nenhum questionamento quanto ao seu passado ou como conseguiu o cargo? É para refletir.
Preconceito, racismo, homofobia, precisam ser combatidos de forma contínua, permanente, independente da origem ou da motivação.
No RN, nós temos um juiz de Direito que já foi dançarino de Beto Barbosa. Um dos mais competentes e corajosos juízes do RN, Herval Sampaio, antes de ingressar na Magistratura, fez parte do grupo de dançarinos que rebolava ‘dance e balance com BB’.
Será que Dr. Herval passou no concurso pela ‘beleza’, pelo gingado de dançarino ou pela capacidade intelectual?
Seja homem ou mulher, vejamos as coisas como elas realmente são. Sem preconceitos ou discriminações.