
Fevereiro chegou. E com ele, o quadro sucessório do RN em 2022 que começa a ganhar contornos mais nítidos do que será o desenho finalizado para ser formalizado durante as convenções partidárias.
Fátima Bezerra se alimentou do favoritismo e da possibilidade de ganhar o pleito por WO (no futebol, é quando um time ganha sem o adversário ter entrado em campo), justamente por não vislumbrar um competidor com reais chances de assombrar seu projeto de reeleição.
Diante do quadro sucessório praticamente estático em relação à oposição, Fátima também não se movimentou. Deixou as sandálias nos pés da cama na casa da Redinha e calçou um salto alto que não combinou muito bem com seu vestido simples e sua tiara feita à mão por uma costureira de Parelhas, a pedido de Chico do PT.
Sem articular, sem fazer política e sem conversar com aliados ou potenciais aliados, Fátima deixou que a oposição buscasse seu caminho e procurasse jogar com os atletas que não estavam sendo titulares no time governista.
Fátima continua sendo favorita, mas precisa fazer o que é necessário e indelegável: Assumir a articulação de sua própria sucessão, sob pena de assistir as coisas acontecendo somente no lado adversário.
Hoje, Maria de Fátima Bezerra conta com o MDB do ex-governador Garibaldi Filho, fiel da balança no pleito de 2022, não somente pela contabilidade de prefeitos, mas pela capilaridade que tem no interior e pela força política que o pai de Waltinho ainda exerce num terreiro que os adversários da filha de seu Severino reinam com certa força: Os eleitores com mais de 50 anos.
Para formar sua chapa em definitivo, Fátima precisa da aliança com o MDB de Garibaldi e já não é mais imprescindível como foi há alguns meses, a atração de Carlos Eduardo para seu palanque. Jean Paul pode motivar a militância petista e Lula pode leva-lo pelo braço para a base.
Carlos Eduardo está isolado em sua própria armadilha tecida de indefinição e falta de identidade. Perdeu o timming para ser o senador de Fátima e para ser o governador da oposição. Seu partido é fraco e o filho de Agnelo não dispõe de respaldo político; sua força eleitoral já não é a mesma na Grande Natal e ele poderá ser ‘espremido’ pela polarização dos dois grupos que representam as principais forças da política potiguar no momento: O grupo de Fátima e o grupo liderado pelos ministros Rogério Marinho e Fábio Faria.
A oposição sabe das fragilidades impostas pelo fato de não contar com um nome com potencial eleitoral, apelo popular e respaldo político. A candidatura de Benes Leocádio foi cobaia no laboratório oposicionista e provou ser um placebo para curar a doença da falta de candidato.
Eis que o veraneio serve de maternidade para a oposição celebrar o parto que deu à luz uma candidatura com os requisitos que Rogério Marinho esperava. Ezequiel Ferreira é o nome para ir às ruas contra Fátima.
Ezequiel tem força política (conta com a maioria dos deputados na Assembleia, dezenas de prefeitos, deputados federais, lideranças no interior e apoio de vários partidos); potencial eleitoral (foi o mais votado no último pleito), mas falta-lhe o apelo popular, que poderá ser conquistado no decorrer do pleito.
Alguns governistas acham que Ezequiel não teria condições de mudar o discurso de apoio ao governo Fátima e passar a ser oposição. Engano infantil. Todos os políticos do RN já mudaram de discurso de acordo com as circunstâncias e conveniências. Ezequiel seria mais um.
Ezequiel Ferreira apresenta pelo menos duas fragilidades em sua possível candidatura a governador: Telhado de vidro por processos judiciais adormecidos e sua dificuldade de contato diretamente com o povo, a base, o eleitor. O presidente da Assembleia acostumou-se a resolver o apoio das lideranças em cada cidade e a liderança resolvia com o eleitor sem precisar sequer apertar a mão de seu candidato.
Numa eleição majoritária é diferente. Ele terá que ir diretamente às bases, terá que transitar na planície, terá que se submeter a entrevistas não amestradas e responder a temas indigestos que nunca lhe incomodaram na bolha de conforto que a Assembleia lhe permitiu orbitar durante muito tempo. Sua condição de anfíbio na política atual, em que habita o mar da oposição e a terra firme do governo, terá que ceder espaço para um embate sem duas cabeças, mas com um rosto que o eleitor identifique e sinta que pode confiar.
Porém, apesar dessas fragilidades, Ezequiel é um candidato forte e empolgou as órfãs lideranças da oposição.
Fátima não pode subestimar adversário. Ninguém ganha ou perde eleição de véspera. A história nos releva inúmeros casos de candidaturas vitoriosas que foram destruídas pelas urnas; assim como candidaturas subestimadas, quase natimortas, que surpreenderam e conquistaram vitórias.
Portanto, ainda não estamos diante das definições que nos levem a um desenho real do quadro sucessório. Tudo ainda não passa de articulações que ainda não se concretizaram nos dois lados.
Na metamorfose ambulante da política potiguar, nada é definitivo até o dia da convenção.
As conversas continuam. A oposição tem usado mais saliva; o governo terá que fazer o mesmo, sob pena de engasgo por excesso de silêncio.
Aguardemos os próximos capítulos da novela eleitoral chamada sucessão de Maria de Fátima, a filha de seu Severino e Dona Luzia.