Por Marcelo Hollanda, jornalista
Testar limites é o desafio de toda a criança na difícil e árdua missão de crescer. Mas a falta de recompensas e limites a transformou num adolescente rebelde e desafiador. Sem balizas morais e éticas, seu futuro é um livro aberto para o certo e o errado.
Essa não é a leitura de um ser humano nos seus primeiros anos de vida, mas pode ser a visão aterradora
de um governo que acabou de nascer, ainda está no cueiro, mas já conseguiu subordinar às suas vontades e birras todos os adultos ao redor.
Quebrou a janela com uma pedrada e recebeu a aquiescência dos moradores e vizinhos; agora se prepara para botar fogo na casa, depois de destruir todo o mobiliário sem qualquer reprimenda digna de ser levada a sério.
Este menino mau sempre foi um transgressor por natureza, o que não o transformou num revolucionário. Sem cultivar amor pelo estudo, pela cultura e pelo trabalho, optou por fazer o que mais lhe dá prazer: destruir, destruir e destruir.
Agora, ficou uma boca suja. Se já era mal educado, suas imprecações desta vez podem ser ouvidas ao longe, atingindo todos que ousam limitar sua ambiciosa pretensão de transformar o seu mundo num parque de diversões sem limites.
Alcançar a idade adulta e depois a terceira idade conseguindo com sucesso construir seu castelo de iniqüidades é a recompensa tardia do que lhe foi tirado na adolescência, mas generosamente devolvido no futuro.
Agora, mais forte do que nunca, ele está à vontade para ameaçar pessoas e exercer plenamente todas as suas convicções segundo as quais poder é algo a ser compartilhado somente com aqueles que aceitem ser obedientes e vassalos à sua vontade.
Homem de família, nem é preciso que se diga que os filhos são tudo para ele, mais do que qualquer um do povo, a quem sinceramente ele despreza, a menos que lhe sirva para limpar as botas.
Amado por sequelados mentais que não discutem uma vírgula do que ele diz, reverenciado por interesseiros e oportunistas e cultuado por outros pares para os quais a humanidade não passa de uma bacia tóxica, este menino mal criado está pronto para voar.
Encurralado pelos próprios feitos, acuado pelos castigos que o esperam, de um jeito ou de outro, ele já conseguiu o que queria – deixar o que sempre foi ruim em algo pior ainda.