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POLÍTICA DE IDENTIDADE, VITIMISMO E TODOS CONTRA TODOS

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Por Dr. Geraldo Ferreira – Médico e Presidente do SinmedRN

“O mundo vem sendo moldado pelas tendências confliantes da globalização e da Identidade”, escreve Manuel Castells, “os movimentos sociais e a política resultam da interação entre a globalização induzida pela tecnologia, o poder da identidade (em termos sexuais, religiosos, nacionais, étnicos, territoriais e sociobiológicos) e as instituições do Estado”.

Antes, a Esquerda defendia os trabalhadores contra a classe gerencial e executiva, emprego, salário e padrão de vida eram os desafios. Perdida a guerra econômica, onde o capitalismo se mostrou mais eficiente em melhorar a vida dos trabalhadores, permitindo acesso a bens de consumo e melhora das condições de sobrevivência de forma continuada, a esquerda voltou-se para uma nova categoria de eleitores com uma nova modalidade de política. Eles deram, segundo Douglas Murray, em A Loucura das Massas, propósito e impulso a um movimento socialista que precisava de novas energias.

Aconteceu aí a guinada da política de classes tradicional, para o mundo desagregador das políticas de gênero, racial e sexual. Gramsci foi responsável por criar as bases da mudança da ideia de revolução que deveria ser baseada na cultura e não nas classes, sustentou que os proletários não tinham feito a revolução porque as ideias antigas e conservadoras tinham forte influência sobre eles. A revolução só seria feita quebrando-se a hegemonia cultural do Ocidente, e para tanto a guerra de ocupação deveria se voltar para a educação, a mídia, as artes, criando-se aí uma nova cultura revolucionária.

A Escola de Frankfurt, formada por acadêmicos europeus sob a liderança de Horkheimer deu combustível aos movimentos da contra cultura, suas influências mais visíveis vistas nas universidades, com as iniciativas de desconstruir os pilares da civilização ocidental, cristianismo, família e o mito do patriarcado, arte clássica, cânone literário e tudo que se associasse à cultura ocidental, encarada como burguesa a ser destruída.

Enquanto a direita imaginava que a guerra ainda fosse pelo capitalismo e livre mercado, o politicamente correto trazia para o centro dos conflitos as questões identitárias, caminhando para se tornar uma nova hegemonia, com ares de oprimidos contra opressores, mas de caráter autoritário, censurador e intolerante. O Ativismo ocupou fortemente as estruturas sociais e conseguiram o domínio quase completo da academia, da mídia e das artes.

A Interseccionalidade é uma expressão acadêmica responsável por idealizar grupos de oprimidos sempre novos, há registro de 14 categorias de grupos oprimidos, com um grupo privilegiado para cada um. Vão de feminino e masculino a preto e branco, chegando até aos supostos privilégios de quem foi educado, chamado Educacionalismo, ou de quem é homem e se identifica como homem ou mulher que se identifica como mulher chamado Generismo.

As pessoas não são mais julgadas pela razão, lógica ou evidência, mas sempre por meio de uma teoria esquisita a respeito de opressão. A substituição da velha luta entre classe trabalhadora e burguesia trouxe, com a avalanche de identidades da teoria interseccional, a complicação adicional de uma luta para ver quem é mais oprimido, a hierarquia de grupos de vítimas virou uma batalha para ver que está mais abaixo, merecedor portanto de compensações.

É sabido pelos psicólogos sociais, desde os anos 70 que enfatizar diferenças entre grupos leva à desconfiança e hostilidade, ganha-se com a política identitária uma eterna luta de todos contra todos, orientada pelo complexo de vítima. Opor-se à tropa de choque ideológica não é fácil, as exibições públicas agressivas de virtude, feitas muitas vezes por moralmente deploráveis, os convencem de serem heróis, e espumam ódio enquanto enfrentam os que tentam ser moderados, razoáveis, ajustados, criteriosos.

“A política de identidade é universalmente atraente porque permite que falhas e fraquezas sejam concebidas como produtos de opressão e injustiças históricas. A responsabilidade pessoal é retirada da equação”, diz Milo Yannopoulos no seu livro Dangerous.


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