O presidente Jair Bolsonaro já pode escrever um livro após sua passagem pela presidência da República. Mas não é um livro de memórias em que aparecem as narrativas do poder. É sobre as pérolas que ele coleciona em abundância.
A última. Não. Não será a última de sua coleção. É a mais recente. Ou quase isso.
Bom, a mais recente que vi, Bolsonaro faz menção ao que representa seu vice-presidente Hamilton Mourão.
Diz o marido de Michele que o vice:
“é igual cunhado. Você tem que aturar.”
Deveria ser apenas mais uma para o cardápio do fim de semana regado a uma geladinha. Mas é o presidente da República dizendo publicamente que seu substituto imediato, eleito em sua chapa, não é merecedor de elogios ou detentor de qualidades que o levaram ao cargo.
Ele disse que tem que aturar. É o mesmo que “suportar com paciência e resignação; tolerar.” É uma facada verbal no Mourão.
Além da falta de respeito ao próprio cargo, Bolsonaro desqualifica seu vice, que tem dado provas de fidelidade e lealdade, sem se deixar atrair pela cereja dos vices, a conspiração para assumir o cargo do titular.
Jair Messias Bolsonaro é o presidente que mais produz material contra si; quem mais alimenta o próprio desgaste. É uma espécie de self service da idiotice contínua.
Se Mourão tomar o mesmo vinho ‘conspiration’ que Michel Temer embebedou-se, aí Bolsonaro vai ver que não foi um bom negócio rotular seu vice sóbrio e discreto, como um cunhado chato que o sujeito não pode se livrar.
Acredito que em algum momento, alguém sensato no Governo, vai pensar baixinho:
“Que falta faz uma facada na língua, para que a danada fique pelo menos um ano sem atividade. Seria uma maravilha para o Governo.”
Se existir esse ‘sensato’ no time, tem que pensar baixo; senão, leva uma facada. E pode não ser verbal.